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domingo, 15 de julho de 2007

GANGA BRUTA

Ganga Bruta (Brasil, 1933. De Humberto Mauro. Com Durval Bellini, Dea Selva, Lu Marival, Décio Murilo)

Humberto Mauro começou a filmar, em 1925, com uma câmera 9,5 mm, passando a fazer curtas como Valadão, O Cratera, etc. Seu primeiro longa metragem é de 1926, Na Primavera da Vida. Entre 1930 e 1933, compartilhou do sonho de Adhemar Gonzaga com a Cinédia. Foi a Cinédia que produziu Ganga Bruta (1933), que junto com o filme Limite de Mário Peixoto, se tornaria marco do cinema brasileiro e um dos mais importantes filmes da história do cinema mundial.
Em sua primeira exibição Ganga Bruta rendera pouco menos de 15 mil réis, o público carioca chamou o filme de “Abacaxi da Cinédia”, “o pior filme de todos os tempos”. Humberto Mauro ficou conhecido como “Freud de Cascadura” (referindo-se a cidade onde nasceu) e sobre a Cinédia diziam que daria uma “explêndida fábrica de goiabada”. Assim eram recebidos os filmes que fugiam do senso comum, ditos de vanguarda, consequentemente o filme logo saiu de circulação.
No entanto foi preciso o tempo e o acaso para que Ganga Bruta tivesse outra chance. Carl Scheiby, remexendo nos arquivos da Cinédia encontrou os negativos, remontou-os (com aprovação de Humberto Mauro) e exibiu-os, em 1952, na 1a Retrospectiva do Cinema Brasileiro e, finalmente, obtendo sua consagração.
Ganga Bruta é um dos mais belos filmes já feitos. Não apenas pelo roteiro que apresenta a trama de forma não linear, através de “Flash-backs”. Mas também pelo apuro técnico, pela inventiva utilização de técnicas cinematográficas de vanguarda em união com uma linguagem sensorial, instintiva, sensual. Usavam pela primeira vez três câmeras para filmar uma sequência, alêm do criativo uso do som, pontuado de ruídos, sussuros e uma intervenção musical, curiosamente o filme transita pelo mudo e o sonoro. A trilha incidental é do maestro Radamés Gnatalli e do próprio cineasta.
A trama é a seguinte: um engenheiro (Durval Bellini) mata a esposa (Déa Selva) na noite de núpcias, pois descobre que ela o traía. Só saberemos isso quando, em “flash-back”, ele relembra o namoro, as suspeitas, o noivado e, por fim, o crime.
São inesquecíveis as sequências da briga no bar (realista, muito bem filmada e editada) e da sedução entre o engenheiro e sua amada, onde ao olhar um joelho nu da garota deflagra-se o desejo sexual reprimido pelo protagonista, de grande sensualidade (a sequência é filmada em câmera lenta) a cena culmina numa antológica sequência de imagens-símbolo que representam o ato sexual.
Humberto Mauro sempre será um gênio e seu filme, como o próprio título diz, sempre será um filão bruto, resistente, persistente, eterno.

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá, voce poderia postar ou me enviar as referencias que utilizou nesse artigo? Estou fazendo um apesquisa e parte dela envolve o filme ganga bruta. Obrigado

Edu Reginato disse...

Olá amigo, não lembro de ter usado algum livro ou pesquisa específico, lembro que fiz de cabeça pelo que conheço e estudei sobre Humberto Mauro. No entanto, recomendo o livro Humberto Mauro - O pai do cinema brasileiro, de André Felippe Di Mauro. Tambem tem bom material na coleção de cinema da editora Imprensa Nacional, até pouco tempo atras tudo estava disponivel para download em PDF. Qualquer coisa é só perguntar. abração.

Edu Reginato disse...

Lembrei de outro livro: Livro - Humberto Mauro, Cataguases, Cinearte - PAULO EMILIO SALES GOMES