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domingo, 15 de julho de 2007

O HOMEM DUPLO

O HOMEM DUPLO (A SCANNER DARKLY, EUA, 2006. DE RICHARD LINKLATER. COM KEANU REEVES, ROBERT DOWNEY JR., WOODY HARRELSON, WINONA RYDER, RORY COCHRANE. 100 MIN)

Vou começar abrindo meu coração num momento tiéte: Richard Linklater é o máximo!!!!.
Pronto, já estou refeito e posso prosseguir falando desse texano que tem no currículo dois dos filmes mais bonitos e cults sobre amor já feitos no cinema: Antes do amanhecer e Antes do pôr-do-sol (dois filmes que vou ter que dedicar umas linhas futuramente para falar). Mas não são só esses tem também o tributo de amor ao rock'n roll de Escola do Rock e a filosófica animação Waking Life. Quatro filmes legais de um cineasta americano é uma coisa rara então vale a pena falar de seu 5° filme legal, lançado recentemente em dvd.
O homem duplo é uma adaptação de obra de Philip K. Dick - o cinema já havia visitado o escritor em obras legais como Blade Runner, Vingador do futuro e Minority Report.
Basicamente o paralelo entre estas obras e o homem duplo é a Identidade- seja a perda da identidade, seja a identidade trocada ou a procura da identidade - no futuro de K. Dick a identidade de um ou mais indivíduos é um bem precioso e fugaz. Fugaz porque geralmente essa identidade não é controlada pelo indivíduo mas sim patrimônio de um organização que a libera para o uso.
Em Blade Runner vemos um grupo de replicantes que reinvindica seus direitos a propriedade de um identidade que os humanize. Em Vingador do Futuro o indivíduo descobre que sua identidade é uma farsa, um disfarce para uma identidade malévola. Em Minority Report vemos um indivíduo que tem de abdicar de sua identidade para provar que é inocente. No caso de o Homem Duplo temos um indivíduo que é um policial disfarçado infiltrado numa turma de junkies viciados numa tal Substância D. Bob Arctor, interpretado por Keanu Reeves, é um homem que descobriu que odiava seu mundo "american way of life", pai de família com a casa dos sonhos, tudo ele joga para longe - essa identidade é a primeira a ser deletada.
No momento em que começa o filme Bob Arctor é apresentado como o policial disfaçado, ele está vestido com seu traje de embaralhamento (roupa que o deixa sem identidade e pode lhe dar o rosto e o corpo de qualquer pessoa), ninguém no departamento de polícia conhece sua identidade, apenas é conhecido por um codinome o traje lhe proporciona a falta de rosto. Bob já está sofrendo a confusão mental de trabalhar como duplo, principalmente porque se afeiçoa aos seus colegas junkies e, principalmente, a Donna (Winona Ryder). Porém, sua confusão aumenta quando é designado a investigar o suposto traficante com ligações com o cartel de substância D: Bob Arctor. Bob tem que investigar a si mesmo. Nesse momento já está viciado em D, colocando a perder toda a investigação ou não...pode ser que nada é o que parece. Falar mais vai estragar as surpresas.
Linklater é um cineasta que fala sobre as relações humanas, então não espere ação e efeitos especiais. O homem duplo é uma ficção intimista com clima de policial noir. Os personagens dialogam sobre suas vidas, seus desejos e sobre a completa incapacidade de serem felizes. O uso de drogas é a única válvula de escape de um cotidiano medíocre e da falta de individualidade (os possíveis suspeitos são monitorados o tempo todo). As drogas são um problema crônico nessa sociedade do futuro (só do futuro?!?). O filme é líbelo anti-drogas, mas não deixa de apresentarmos as sensação constante de "chapação" - vemos um delírio constante, elevado pelo acertado uso da rotoscopia. Sim, é mais adequado classificar o filme como uma animação, porque é exatamente isso. Linklater, já havia trabalhado com rotoscopia em Waking Life, com resultados ótimos. O homem duplo é a evolução dessa técnica que teve origem na década de 30, consiste em desenhar sobre a película, filma-se a ação real com atores e depois se anima - o resultado é um misto de vida real com desenho. Graças à técnica o visual delirante é liberado.
O Homem Duplo é uma dolorida ficção policial de animação. Todos essas fatores podem nos confundir, mas é impossível não deixar de identificar esse filme como uma grata surpresa. Vale a pena assistir. Filmão!!!

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