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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A LISTA NEGRA DOS VIDEO NASTIES


A lista mudava sua composição desde que foi publicada pela primeira vez em junho de 1983. Foram 74 títulos e alguns deles deixaram a lista quando os processos falharam ou as distribuidoras faliram. Ao todo 35 filmes inicialmente listados pela DPP que nunca conseguiram um processo favorável e não obtiveram certificação e 39 foram banidos. Por mais de 15 anos muitos destes foram deixados no limbo cinematográfico pelo "ato 1984", que, efetivamente, colocou um fim na lista por força da lei, quando em 1986 todos os filmes lançados não certificados tornaram-se ilegais. Na prática a DPP manteve esta lista até a metade dos anos 90, mas no fim a Video Recordings Act foi perdendo sua função e aos poucos saiu da cena. Com a mudança do regime da BBFC e a facilidade de se conseguir material importado ou baixado pela Internet fez com que muitos destes fossem re-classificados e lançados sem cortes enquanto outros não tiveram a mesma sorte (a maioria por violência sexual ou com animais), mas ao menos não banidos. Curiosamente filmes modernos com teor de violência brutal como JOGOS MORTAIS e O ALBERGUE passaram sem cortes pela BBFC. Abaixo vocês conferem a lista completa com todos os 74 filmes e os seu destino após o ato:

ABSURD (Itália, 1981) - Dirigido por Aristide (Joe D'Amato) Massacessi. A despeito dos cortes da versão de cinema (2 min 32s), o filme recebeu uma classificação "18 anos" da BBFC em 1982 para o cinema e a tentativa da distribuidora Medusa Video em re-inserir os cortes foi banido. Conseguiu a certificação com os cortes originais, mas o filme tem boas chances de passar sem cortes pelo novo regime da BBFC.


ANTHROPOPHAGUS THE BEAST (Itália, 1980) Dirigido por Aristide (Joe D'Amato) Massacessi. Este filme de canibais foi famoso por ter algumas das maiores cargas de gore de qualquer um dos “videos nasties” e foi lançado em vídeo em uma versão cortada e outra sem cortes, ambas foram banidas. Os cortes da versão dos Estados Unidos (aproximadamente 2 min) foram submetidos a BBFC e aprovados em 30 de janeiro de 2002.


AXE (EUA, 1977) Dirigido por Fred Friedel. Este filme obscuro já havia passado com cortes em 1982 para lançamento em cinema. Os cortes foram re-inseridos pela distribuidora VRO video em VHS e acabou banido. O filme saiu da lista da DPP e passou pela BBFC como ‘The California Axe Massacre’ com cortes de 19 segundos em 2001 e sem cortes em 2005.

THE BEAST IN HEAT (Itália, 1977) Dirigido por Luigi Batzella. Uma produção nazi exploitation é conhecida pelo péssimo gosto que beira a sátira, com cenas de um anão ninfomaníaco! A primeira aparição em vídeo foi pelo selo JVI, uma empresa incrivelmente pequena que distribuiu um número limitado de cópias com certificado da Espanha, hahaha! Depois do banimento estas fitas custavam peso de ouro no mercado negro. Ainda banido, é bem provável que jamais seja lançado novamente.

THE BEYOND (Itália, 1981) Dirigido por Lucio Fulci. Desnecessário de introduções, a produção mais famosa do diretor italiano foi lançada em cinema com cortes de 2 minutos pela BBFC e estranhamente foi esta mesma versão, pela Vampix video, que foi banida. Duas versões posteriores (Elephant Video e VIPCO) foram certificadas com ainda mais cortes. Em 31 de Janeiro de 2001 conseguiu uma certificação para ser comercializado sem cortes.

BAY OF BLOOD/BLOODBATH (Itália, 1971) Dirigido por Mario Bava. A notória importância desta produção para o gênero não foi suficiente para sensibilizar os censores quando teve certificação para o cinema rejeitada em 1972. Futuramente a versão em VHS lançada pela Hokushin Video acabou na lista. Uma versão cortada foi aceita em 1994 (Redemption Video) e a mesma edição foi certificada para DVD em 2002.

BLOOD FEAST (EUA, 1963) Dirigido por H. G. Lewis. A película mais velha a figurar na lista também é uma das mais amadoras, apesar do gore característico dos filmes de Lewis e viu a luz do dia pela Astra home video. Estranho pensar que um filme tão amador poderia corromper crianças ou ser depravado o suficiente para ser levado a sério. De qualquer maneira em junho de 2001 conseguiu voltar para as prateleiras com 23 segundos de cortes e em 2005 sem corte algum.

BLOOD RITES (EUA, 1967) Dirigido por Andy Milligan. O filme mais sangrento do diretor Andy Milligan possui atuações terríveis e orçamento próximo do zero, conseguiu as prateleiras pela Scorpio Video, foi perseguido e acabou na lista permanecendo no limbo até os dias de hoje, talvez por causa da pequena importância das distribuidoras atuais em re-submeter a produção para os censores, pois não há muito aqui que poderia causar polêmica na BBFC. Blood Rites ganhou um remake pelo próprio Milligan em 1972 (intitulado Legacy of Blood), tão ruim quanto.BLOODY MOON (Espanha, 1981) Dirigido por Jesus (‘Jess’) FrancoO slasher-giallo vagabundo do espanhol Jess Franco (completo com seus ultra-zooms) foi lançado cortado nos cinemas em 1982 e pela depois pela Inter-Light video nas versões cortadas e sem cortes, esta última acabou na lista da DPP. Bloody Moon foi re-avaliado em 1994 e liberado com 1 minuto e 20 segundos de cortes.

THE BOGEYMAN (EUA, 1980) Dirigido por Ulli Lommel. A mistura de HALLOWEEN e HORROR EM AMITYVILLE, de Lommel, não sofreu cortes nos cinemas no ano de 1980. A mesma edição da VIPCO Vídeo em VHS foi banida. Levado novamente em apreciação no ano de 1992 sofreu cortes e finalmente liberado completo em 2000.

THE BURNING (EUA, 1980) Dirigido por Tony Maylam. A variação de SEXTA FEIRA 13 do diretor Maylan com excelentes efeitos de Tom Savini passou pela tesoura da BBFC para lançamento nos cinemas (19 segundos de cortes). Erroneamente a distribuidora Thorn EMI lançou em VHS a edição completa do filme e esta foi banida, desde então todas as produções da Thorn EMI eram vistas com olhares críticos pelos censores. Passou sem cortes em agosto de 2002.

CANNIBAL APOCALYPSE (EUA/Itália, 1980) Dirigido por Antonio Margheriti. Apesar de ter o "Canibal" no título está mais para uma cópia dos filmes de zumbi de George Romero. Nunca foi submetido para apreciação da BBFC e mesmo assim a Replay home video colocou um selo de certificação falso quando lançado em VHS. Ficou banido até 2005 quando passou com um ínfimo corte de 2 segundos.

CANNIBAL FEROX (Itália, 1981) Dirigido por Umberto Lenzi. Um dos filmes mais violentos da lista e polêmico pela excessiva gratuidade dos maus tratos contra animais foi lançado pela Replay também com uma certificação falsa e depois totalmente mutilado (cerca de 7 minutos), contudo ambas as versões nunca foram submetidas à BBFC. A VIPCO em 2002 fez pré-cortes de 5 minutos e ainda assim a BBFC exigiu mais 6 segundos de cortes, sendo essa a edição disponível hoje no Reino Unido.

CANNIBAL HOLOCAUST (Itália, 1978) Dirigido por Ruggero Deodato. Podemos dizer que de forma indireta, Ruggero Deodato começou toda a polêmica sobre os "vídeos nasties", ajudado pela distribuidora Go Video. Nunca foi visto pela BBFC oficialmente e embora a empresa que o lançou diga ao contrário provavelmente pré-cortes tenham sido realizados para a versão em VHS. Finalmente liberado em julho de 2001 com 5 minutos e 44 segundos a menos.

CANNIBAL MAN (Espanha, 1971) Dirigido por Eloy De La Iglesia. Este sombrio e belamente filmado melodrama nada tem a ver com os outros filmes de canibais da lista da DPP. Então foi possivelmente perseguida quando a Intervision trocou o título original (La Semana del Asesino) para algo mais chamativo. A versão sem cortes ficou banida até Novembro de 1993 quando passou com apenas 3 segundos de cortes.


CANNIBAL TERROR (Espanha, 1981) Dirigido por Julio Tabanero. O título é chamativo, mas acredite, é muito menos interessante do que parece. Depois de lançado pela Modern Films Video foi banido pela sua associação com os outros filmes de canibais (aparentemente a BBFC perseguiu tudo o que tinha "cannibal" no título) e algum gore mais profissional. Passou sem cortes em março de 2003.

CONTAMINATION (Itália, 1980) Dirigido por Luigi Cozzi. Uma das grandes injustiças nesta lista, esta variação de ALIEN e INVASORES DE CORPOS não tinha motivo algum para passar na lista. Ainda assim já havia sido lançado com pré-cortes ViP vídeo sem certificação e em meados dos anos 80 uma edição mutilada foi lançada. No início de 2003 foi re-submetido sem cortes, passou pela BBFC e ganhou certificação para maiores de 15 anos(!?!?)

DEAD AND BURIED (EUA, 1981) Dirigido por Gary Sherman. Não era só de produções obscuras e amadoras que se moviam a lista e este é o primeiro exemplo. Passou sem cortes em 1981, enquanto era lançado no cinema e surpreendentemente foi banida quando a Thorn EMI passou para VHS. Ficou pouco tempo na lista e no final dos anos 80 recebeu 5 segundos de cortes. Em 1999 foi liberado completamente.


DEATH TRAP (EUA, 1976) Dirigido por Tobe Hooper. Segundo filme de Hooper, com muito mais violência e menos tensão que o primeiro (para quem não sabe é O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA). Foi certificado com cortes para lançamento em cinema em 1978. Em VHS a VIPCO re-colocou os cortes e acabou banido, parcialmente pela arte da capa e parcialmente pela implicância pessoal de Mary Whitehouse. Em meados dos anos 90 foi aprovado com 25 segundos a menos e em novembro de 2000 passou completamente. Como curiosidade, o filme anterior de Tobe Hooper, mesmo sendo extremamente mais assustador nunca figurou na famigerada lista.


DEEP RIVER SAVAGES (Italia, 1972) Dirigido por Umberto Lenzi. Ivan Rassimov, Me Me Lay e animaizinhos mortos estrelam o primeiro filme da onda canibal italiana. Não conseguiu certificação para ser lançado no cinema, então não seria novidade que a edição sem cortes em VHS pela Derann figurasse na lista da DPP. Cortes de 3 minutos e 45 segundos feitos em 2003 precisaram ser feitos para que o público do Reino Unido conseguisse ver a obra.


DELIRIUM (EUA, 1979) Dirigido por Peter Maris. Um thriller estúpido sobre um grupo de fascista que contratam um veterano do Vietnã psicopata para limpar as ruas. Levemente profissional e nunca interessante, ganhou as prateleiras pela VTC e acabou na lista sem muito fundamento. Em 1987 ganhou 16 segundos a menos e foi liberado.


THE DEVIL HUNTER (Espanha, 1981) Dirigido por Jesus Franco. Mais um treco de Franco, que pegou o lugar do diretor Armando De Ossorio quando este saiu andando do set - possivelmente depois de ver a porcaria do roteiro - essa tranqueira mistura CAÇADORES DA ARCA PERDIDA com ANTHROPOPHAGUS! Cinehollywood lançou em vídeo e foi banido, muito mais pelo fetiche de Franco por mulheres nuas sendo chicoteadas, já que há pouco gore na tela. THE DEVIL HUNTER continua banido, pois nenhuma distribuidora parece interessada em lançar uma produção tão pobre assim.

DON'T GO IN THE HOUSE (EUA, 1980) Dirigido por Joseph Ellison. Seria um filme excelente na linha de PSICOSE não fosse a trilha sonora "disco" e o orçamento muito baixo. Contudo chegou a ser lançado em cinema em 1980 cortado, a empresa Videospace tentou re-inserir os cortes e acabou banido. Em 1987 saiu da lista após mais de 3 minutos de mutilações no fotograma.

DON'T GO IN THE WOODS ... ALONE! (EUA, 1980) Dirigido por James Bryan. Se Ed Wood estivesse vivo e com dinheiro para fazer um slasher teria grandes chances de sair como esse aqui. Sem o menor critério, a inaptidão de todos os envolvidos deve ter sido a causa do banimento. Nunca tentaram passar essa porcaria novamente por um bocado de tempo até que ganhou as prateleiras intacto em 2007.


DON'T GO NEAR THE PARK (EUA, 1979) Dirigido por Lawrence Foldes. Uma bagaceira totalmente esquecível e mais um caso de que a DPP não tinha muita seleção para banir filmes. em 2006 conseguiu passar ileso para lançamento em DVD.


DON'T LOOK IN THE BASEMENT (EUA, 1973) Dirigido por S. F. Brownrigg. Outro mistério na lista da DPP, pois esta maluca produção em um hospício ultrabarata foi lançada em VHS no Reino Unido pela Crystal Home Video em uma versão já muito mutilada e ainda assim acabou banido. Em 2005 não apenas passou sem cortes pela BBFC como ainda ganhou certificação para maiores de 15 anos.

DRILLER KILLER (EUA, 1979) Dirigido por Abel Fererra. Esqueçam o título chamativo, DRILLER KILLER é de fato uma variação drogada de TAXI DRIVER sendo o debut de Abel Ferrara. A edição original em vídeo pela VIPCO continha pré-cortes, mas não foi suficiente para saciar os interesses da DPP e acabou banido. Esta mesma versão conseguiu passar posteriormente em 1999 e sua versão integral foi aprovada em novembro de 2002.

THE EVIL DEAD (EUA, 1982) Dirigido por Sam Raimi. O filme mais popular e notório da relação, tão realista quanto quadrinhos de terror, fez muito barulho quando foi banido e é esquisito quando se pensa que filmes significativamente mais gráficos como TRASH - NÁUSEA TOTAL, de Peter Jackson, passaram sem maiores problemas. EVIL DEAD foi lançado com pequenos cortes em 1982 no cinema e é a mesma versão banida quando chegou em vídeo pela Palace. Após 40 processos em cima da obra de Sam Raimi, foi re-lançada com mais cortes e em junho de 2002 o público britânico pôde assisti-lo em sua plenitude.

EVILSPEAK (EUA, 1981) Dirigido por Eric Weston. Essa porca versão masculina de CARRIE - A ESTRANHA envolvendo satanistas, uma academia militar e porcos possuídos têm lá uma certa dose de splatter, mas é tão amadora que não mereceria estar neste rol. De qualquer maneira após uma re-edição com 3 minutos e meio a menos, foi disponibilizado intacto em 1999.


EXPOSÉ (Inglaterra, 1975) Dirigido por James Kenelm Clarke. Nem o fato de serem conterrâneos evitou que essa variação inexpressiva de SOB O DOMÍNIO DO MEDO, de Sam Peckinpah, (que tem sua própria história de problemas com censura) evitasse seu banimento. Já pré-cortado pelos distribuidores no lançamento em cinema, apareceu em vídeo pela Intervision antes de ser banido. Depois foi re-considerado com 51 segundos de cortes.

FACES OF DEATH (EUA/Japão, 1979) Dirigido por Conan Le Cilaire. Metade real, metade picaretagem, o documentário sobre o "sentido da morte" foi pré-cortado pela distribuidora Atlantis em VHS e ainda assim foi banido pela DPP, assim como todas as suas seqüências. No ano de 2003 foi re-avaliado e liberado com cerca de 2 minutos e meio de cortes.

FIGHT FOR YOUR LIFE (EUA, 1977) Dirigido por Robert Endleson. A variação pobre e altamente racial de ANIVERSÁRIO MACABRO seria ofensivamente inassistível se não fosse tão afetado pelo baixo orçamento. É mais um caso de produção que não conseguiu classificação para o cinema (no ano de 1981) e foi banido quando lançado em VHS sem cortes prévios. Neste caso permanece banido até hoje e dificilmente sairá em sua versão integral.


FLESH FOR FRANKENSTEIN (Itália, 1973) Dirigido por Paul Morrissey. Da lista dos desconhecidos este filme de Morrissey talvez seja o mais profissional e interessante. Cortado em 1975 para lançamento na tela grande teve os cortes anulados pela VIPCO e foi banido imediatamente. Conseguiu sair da lista depois que a versão de cinema foi levada a apreciação, em 2006 saiu sem cortes. Diferentemente de seu filme "companheiro" BLOOD FOR DRACULA (1972), que, mesmo contendo violência equivalente, nunca figurou nas discussões da DPP.


FOREST OF FEAR (EUA, 1979) Dirigido por Charles McCrann. Filme sujo e barato feito praticamente em casa com uma câmera de 16mm que trata de um grupo de hippies sedentos de sangue com efeitos comprados em um açougue. Quase um remake do anterior (e melhor) I DRINK YOUR BLOOD (1972). Lançado pré-cortado (mas com o gore intacto) pela Monte Video, continua banido nos dias de hoje, porém não teria problemas em passar pela BBFC porque a maioria das mortes é off-screen e o espectador só vê a bagunça depois do ato consumado.


FROZEN SCREAM (EUA, 1982) Dirigido por Frank Roach. Mais um caso misterioso na lista da DPP, pois esta produção é praticamente inofensiva e conta a história sobre um médico maluco buscando a imortalidade. Permanece banido, todavia atualmente é mais uma situação que não teria polêmica em ser re-lançado.

THE FUNHOUSE (EUA, 1981) Dirigido por Tobe Hooper. Tobe Hooper não estava com a força quando apresentou seus filmes ao Reino Unido, pois foi lançado nos cinemas e banido em VHS, todavia, em 1987, foi devolvido da apreciação sem cortes. Rumores dizem que THE FUNHOUSE foi pego por engano, pois uma cópia pirata do muito mais perigoso LAST HOUSE ON DEAD END STREET (1976) era distribuída com o título alternativo de 'Funhouse'.


GESTAPO'S LAST ORGY (Itália, 1977) Dirigido por Cesare Canevari. Vil e profissional, o propósito deste Nazi exploitation era ofender mais do que os filmes superficialmente similares (ILSA SHE WOLF OF THE SS, DEPORTED WOMEN OF THE SS SPECIAL SECTION) e foi erradicado do Reino Unido, provavelmente para todo o sempre.

THE HOUSE BY THE CEMETERY (Itália, 1982) Dirigido por Lucio Fulci. Outro clássico de Fulci que obteve problemas na terra da rainha. Cortado em apenas 30 segundos para lançamento nos cinemas, a Vampix Video deve ter ficado fula da vida quando esta mesma versão entrou na lista da DPP. Para ser liberado, edições com 4 e até 7 minutos menos foram analisadas, mas em 2001 o filme foi re-certificado com 33 segundos de cortes.


THE HOUSE ON THE EDGE OF THE PARK (Itália, 1980) Dirigido por Ruggero Deodato. Uma abordagem de ANIVERSÁRIO MACABRO à italiana até inocente na sanguinolência, mas carregado de violência sexual que foi rejeitado para sair nos cinemas em 1982, com a versão em VHS pela Skyline banida. Passou com impressionantes 11 minutos e 43 segundos de cortes em julho de 2002, virou quase um trailer.

HUMAN EXPERIMENTS (EUA, 1979) Dirigido por Gregory Goodell. Típico thriller inofensivo dos drive-ins estadunidenses, foi mal interpretado por causa do título que lembra os nazi-exploitations e a arte da caixa que contém uma mulher seminua em tratamento. Assim a permanência da produção na lista foi por pouco tempo e em 1994 já pode ser disponibilizada com 28 segundos de cortes.

I MISS YOU HUGS AND KISSES (Canada, 1978) Dirigido por Murray Markowitz. Tedioso thriller com uma estrutura excessivamente complicada e poucas cenas de violência, também deve ter sido mais um caso de erro da DPP. A versão da Intercity Video (que lançou o muito mais ofensivo PLEASURE SHOP ON 7TH AVENUE (1977), de Joe D’Amato, e nunca figurou na lista) foi banida e foi re-lançado pouco tempo depois com cerca de 1 minuto e meio a menos em 1987.

I SPIT ON YOUR GRAVE (EUA, 1978) Dirigido por Meir Zarchi. Problemático em diversas partes do globo, no Reino Unido não poderia ser diferente. A distribuidora Astra home video colocou na caixa do VHS a certificação 'R' utilizada nos Estados Unidos. Porém esta classificação deveria ser aplicada para a edição mutilada em 17 minutos, contudo o VHS britânico era, de fato, sem cortes. Por mais de 15 anos no rol da DPP até novembro de 2001 quando pôde sair com pouco mais de 7 minutos a menos.

INFERNO (Itália/EUA, 1980) Dirigido por Dario Argento. Nem Argento conseguiu evitar problemas na Inglaterra. A segunda parte da trilogia das mães conseguiu passar nos cinemas com cortes mínimos. Sem muito grafismo ou conceitos polêmicos, é de se surpreender que o mesmo material em VHS pela CBS/Fox video tenha sido banido. Em seguida passaram uma versão com 28 segundos a menos e finalmente outra com 20 segundos, que está relacionado a uma seqüência onde um gato come um rato.

ISLAND OF DEATH (Grécia, 1977) Dirigido por Nico Mastorakis. Sujo, violento, perverso, barato... A polêmica obra de sexploitation caiu em cheio na lista da DPP depois que a AVI video re-colocou todos os cortes do lançamento em cinema de 1981. Depois uma tentativa de re-lançamento - sob o título nonsense de PSYCHIC KILLER 2 - com pré-cortes de 13 minutos também foi recusada. A VIPCO em 2002 conseguiu garantir a certificação após abrir mão de 4 minutos e 9 segundos para a BBFC.

KILLER NUN (Itália, 1978) Dirigido por Giulio Berruti. Nun-sploitation moderado na violência deve ter sido erradicado mais pelo conceito de mal gosto que pelo conteúdo. A versão sem cortes foi banida na época, mas em 2006 conseguiu ver a luz do dia da maneira que foi idealizado.

THE LAST HOUSE ON THE LEFT (EUA, 1972) Dirigido por Wes Craven. Claro que com um rol tão grande de filmes ofensivos, o desconfortável debut de Wes Craven não poderia ficar de fora. Só que com este aqui a coisa foi mais além, teve lançamento nos cinemas recusados em 1974 e novamente em 2000. Em vídeo a distribuidora Replay video havia feito pré-cortes nas cenas mais extremas, contudo não teve desculpa. Em julho de 2002, com 31 segundos a menos pode ser lançado em DVD pela Blue Underground.


LATE NIGHT TRAINS (Itália, 1978) Dirigido por Aldo Lado. Outro ANIVERSÁRIO MACABRO italiano, bem feito, mas muito menos visceral que a obra de Craven. Como possuía pouco gore, o banimento deve-se as cenas de violência sexual, ainda que a distribuidora VWI tenha feito pré-cortes. Continua sem certificação e banido até os dias de hoje.


THE LIVING DEAD AT MANCHESTER MORGUE/LET SLEEPING CORPSES LIE (Espanha/Itália, 1974) Dirigido por Jorge Grau. A variação de A NOITE DOS MORTOS VIVOS, de George Romero, produzida com um esmero excelente e uma fotografia primorosa foi terrivelmente mutilada quando foi para a tela grande e os cortes foram re-colocados pela distribuidora VIP. O resultado? Banimento. Conseguiu ser aprovado com 2 minutos a menos e em maio de 2002 foi aprovado sem cortes pela Anchor Bay.

LOVE CAMP 7 (EUA, 1967) Dirigido por Robert L FrostLove. Camp 7 é mais um pornô softcore disfarçado de nazi exploitation, pois bebe muito mais das fontes dos filmes W.I.P. do que do sub-gênero em questão. Houve uma tentativa de certificação em 2002 pela Salvation Films, mas ela foi recusada e o filme permanece banido.


MADHOUSE (EUA/Italia, 1981) Dirigido por Ovidio Assonitis. Este slasher (filme de psicopata caçando jovens desprevenidos) violento de dupla nacionalidade pintou nas prateleiras pela Medusa vídeo em duas versões, uma integral e outra com um pequeno corte em uma cena. Sem conseguir a certificação, a DPP não fez diferença entre as edições e baniu as duas. Sem haver muito o que incomodasse o novo regime da BBFC, foi certificado sem cortes em 2004.

MARDI GRAS MASSACRE (EUA, 1982) Dirigido por Jack Weis. Esta picaretagem sobre os filmes de H. G. Lewis consegue tornar os já semi-amadores filmes do diretor obras primas do cinema contemporâneo. A inépcia dos envolvidos e os erros anatômicos (especialmente relacionado a uma cena em que um coração é removido) não conseguem despertar interesse. A DPP baniu a versão sem cortes da distribuidora Goldstar e assim está até hoje. Amém.


NIGHT OF THE BLOODY APES (Mexico, 1969) Dirigido por Rene Cardona. México no fim dos anos 60 significa produções com qualidade questionável e este aqui é um mezzo lucha-libre, mezzo monstro, mezzo thriller e ainda enxertado com cenas reais de operações. Inesquecível! Com um minuto de cortes para lançamento nos cinemas em 1974, a Iver Film Services pôs os cortes no lugar e ganhou o banimento. A versão de cinema foi liberada em 1999 e depois re-certificada em 2002.


NIGHT OF THE DEMON (EUA, 1980) Dirigido por James Wasson. Certamente o filme mais sangrento baseado no pé grande, possui atuações péssimas e gore de açougue, contudo possui o climax mais tosco e engraçado da lista inteira. A Iver Film Services lançou a produção com "a coisa" toda: a castração de um motociclista, o desmembramento de um pescador e o climax, que resultaram em um encontro com a DPP. Saiu da lista depois que uma edição com cortes de 1 minuto e 41 segundos saiu em janeiro de 1994 pela VIPCO.

NIGHTMARE MAKER (EUA, 1981) Dirigido por William Asher. Estranho drama psicótico com algumas mortes com facas e uma excelente cena de batida de carros. Um dos interessantes filmes da lista, mas que não tem nada que pudesse justificar o banimento. Tentou ser re-submetido em 1987 sob o título EVIL PROTÉGÉ, contudo foi rejeitado e ainda permanece no limbo.

NIGHTMARE/NIGHTMARES IN A DAMAGED BRAIN (EUA, 1982) Dirigido por Romano Scavolini. Contendo alguns impressionantes efeitos especiais, este slasher profissional de ritmo lento conseguiu sair na tela grande com 1 minuto de cortes. Re-aplicado pela 'World of Video 2000' foi perseguido e erradicado. Em 2002 a versão sem cortes ganhou as ruas pela Screen Entertainment.

POSSESSION (França/Alemanha, 1981) Dirigido por Andrzej Zulawski. Este é um filme que precisa ser visto para acreditar: espiões, alienação, monstros com tentáculos, assassinatos, terceira guerra mundial, tudo com efeitos de Carlo Rambaldi... Apesar de ter sido lançado sem cortes para o cinema em 1981, foi banido pela DPP. Até 1999 quando conseguiu o almejado certificado.

PRANKS/THE DORM THAT DRIPPED BLOOD (USA, 1983) Dirigido por Jeffrey Obrow e Steven Carpenter. Um quase slasher que lembra mais a extensão de um projeto de faculdade, embora contenha algumas boas cenas, nunca foi lançado nos cinemas e saiu direto pela Canon video sem cortes. Banido, conseguiu a certificação no começo dos anos 90 e em uma reapresentação para DVD pela VIPCO acabou perdendo mais um segundo.


THE MONTAIN OF THE CANNIBAL GOD/PRISONER OF THE CANNIBAL GOD (Itália, 1978) Dirigido por Sergio Martino. Sergio Martino entrou na festa canibal um pouco tarde, quando ela já estava acabando, contudo realizou um filme bacana com alguma violência animal e a nudez gratuita de Ursula Andress. Cortado para os cinemas em 1978, a Hokushin video lançou o VHS sem cortes e acabou banido. Como a maioria dos filmes da lista, quando o filme não conseguiu ter o seu processo favorável a DPP saiu da lista, mas a empresa de distribuição já havia falido. Re-certificado com cortes (2 minutos e 6 segundos) em 2002.


REVENGE OF THE BOGEYMAN/BOOGEYMAN II (EUA, 1982) Dirigido por Ulli Lommel. Continuação de THE BOOGEYMAN, do próprio Lommel, contém virtualmente todos os elementos do filme anterior. Não é tão bom como o primeiro e foi direto para o VHS pela distribuidora VTC, sem cortes ou certificação foi banido. Em 2003 não apenas voltou intacto como ainda contendo mais material filmado.


SHOGUN ASSASSIN (Japão/EUA, 1980) Dirigido por Kenji Misumi/Robert Houston. Samurai e seu filho buscam vingança pela morte de sua esposa pelas mãos de um Shogun maluco enquanto ajudam os aldeões no caminho. Excelentemente filmado e editado, com boas atuações e uma dose cavalar de sangue. Saiu integralmente pela VIPCO sem cortes. A quantidade de sanguinolência e orgias baniram o filme. Duas apreciações foram feitas, uma passou com cortes de 27 segundos e a última, em 1999, foi aprovada sem cortes.


THE SLAYER (EUA, 1982) Dirigido por J S Cardone. Este slasher sobrenatural de baixo orçamento é bem filmado e conta a história dos pesadelos de infância de uma mulher em uma ilha na forma de um intruso horrivelmente mutilado que volta para pegá-la. A exceção de uma cena onde uma mulher é empalada nos peitos com um ancinho, não há nada muito chocante. Na metade dos anos 90 a VIPCO conseguiu removê-lo da lista após ceder 20 segundos de material e em 2001 saiu sem cortes pela Screen Entertainment.

SNUFF (EUA, 1971/76) Dirigido por Michael Findlay e Carter Stevens. O primeiro que deu origem a lenda urbana dos filmes "snuff" é uma visão amalucada dos assassinatos da família Manson e ficou engavetado por anos até que o produtor Allan Shackleton filmou um "assassinato" para o final. Ficou apenas um dia nas prateleiras do Reino Unido pela Astra Home Video antes de sumir de vez. Impressionantemente em maio de 2003 a Blue Underground conseguiu uma certificação sem corte algum.

SS EXPERIMENT CAMP (Italia, 1976) Dirigido por Sergio Garrone. Mais um pornô-softcore em campos de concentração maquiado de nazi-exploitation que contém diálogos inspirados e um título bacana a despeito do tédio que preenche a maior parte do tempo. Foi um dos primeiros filmes a ser perseguido no Reino Unido, muito mais pela sua reputação do que pelo conteúdo. Saiu sem cortes em 2005.

TENEBRAE (Italia, 1982) Dirigido por Dario Argento. Segundo filme de Argento na lista é um Giallo incrivelmente bem feito e um retorno do diretor em um lugar mais confortável depois das críticas sobre o filme INFERNO. Para chegar aos cinemas precisou de 5 segundos de cortes, a mesma edição que foi banida pela DPP. Re-lançado em 1999 com 6 segundos a menos, em 2003 conseguiu passar pela BBFC sem cortes (pela Anchor Bay)


NIGHT SCHOOL/TERROR EYES (EUA, 1981) Dirigido por Kenneth Hughes. Slasher padrão da década de 80, causou mais rebuliço por causa da alteração do título original (NIGHT SCHOOL) e a arte da caixa. Conseguiu passar na tela grande após alguns cortes que foram re-inseridos pela Guild home video e foi banido, ainda que não haja praticamente gore espirrando. Em 1987 foi classificado para lançamento após 1 minuto e meio de cortes.


THE TOOLBOX MURDERS (EUA, 1978) Dirigido por Dennis Donnelly. Muito bem feito, uma performance bizarra de Cameron Mitchell e bastante nudez feminina abriu os olhos da DPP. Cortado em 3 minutos para o cinema, foi a mesma versão que saiu em vídeo e subseqüentemente banida. Saiu da lista quando a distribuidora Hokushin faliu e em fevereiro de 2000. A VIPCO obteve a certificação após cortes de 1 minuto e 46 segundos.

UNHINGED (EUA, 1982) Dirigido por Don Gronquist. Inspirado em PSICOSE, mas com muito, muito menos dinheiro, este filme tem uma atmosfera assustadora ainda que o elenco seja bastante amador. Chegou a ser exibido nos cinemas em 1983, com certos cortes, claro. Foi lançado, banido e pouco depois saiu da lista, pois a distribuidora Avatar fechou. Foi certificado intacto em 2004.


VISITING HOURS (Canadá, 1981) Dirigido por Jean Claude Lord. Rostos conhecidos estampam este slasher misoginistico (Michael Ironside e William Shatner) que precisou ser reduzido em 1 minuto para sair na tela grande em 1982. É a mesma versão erradicada pela DPP. A CBS/Fox levou novamente à apreciação em 1986 e a BBFC liberou a exibição. Curiosamente por um engano a edição integral passou na televisão ao invés da certificada, o que gerou para a emissora ITV uma advertência do governo.


WEREWOLF AND THE YETI (Espanha, 1975) Dirigido por Miguel Iglaisias Bonns. Paul Naschy estrela mais um filme de lobisomens bizarro, que é algo como o Lobisomem, da Universal, mas com mais gore. À parte de algumas chicotadas, nada na tela é tão abismal que banisse a produção. Contudo permanece banido até hoje.


THE WITCH WHO CAME FROM THE SEA (EUA, 1976) Dirigido por Matt Cimber. Nem tanto um filme de terror, está mais para um filme de arte com pornografia soft-core, tem uma narrativa difícil de acompanhar e uma série de personagens bobos. Saiu direto em VHS pela distribuidora VTC sem cortes, algumas tomadas de castração devem ter chamado a atenção da DPP. Saiu do limbo em 2006 numa versão sem cortes.


WOMEN BEHIND BARS (Espanha, 1977) Dirigido por Jesus Franco. Franco, assim como Fulci, são os diretores com maior número de obras na lista, três cada um. Como o título entrega, este é um W.I.P. repleto de nudez frontal feminina com o trabalho de câmera horrível e as chibatadas características do diretor. Sem cortes e direto em vídeo pela Go Video, os censores sempre tiveram olhares tortos quando o assunto é torturas femininas e com este não foi diferente. Permanece banido até hoje.

XTRO (Inglaterra, 1983) Dirigido por Harry Bromley Davenport. Bom filme de ficção científica com alguma coisa chocante e bons efeitos se levarmos em consideração o baixíssimo orçamento. Foi lançado nos cinemas sem cortes. Conclui-se que XTRO entrou na lista quase por engano, pois tão logo apareceu no rol da DPP, foi certificado e liberado plenamente.

HELL OF THE LIVING DEAD/ZOMBIE CREEPING FLESH (Italia, 1980) Dirigido por Bruno Mattei. Opa! Quem diria que o nome de Bruno Mattei estivesse na mesma relação que Lucio Fulci, Dario Argento, Mario Bava, Sam Raimi e Tobe Hooper? Hahaha... De uma produção de Mattei nós já sabemos o que esperar, então difícil pensar que alguém na DPP levou o filme a sério, especialmente quando a versão em VHS (pela Merlin Video) continha os mesmos cortes da edição de cinema de 1982. Foi re-certificado duas vezes: uma com mais cortes no início dos anos 90 e em janeiro de 2002 integralmente.


ZOMBI 2/ZOMBIE FLESH EATERS (Italy, 1979) Dirigido por Lucio Fulci. Para encerrar esta maratona, outro filme infame de Fulci, repleto de violência e, bem, mais violência. Após quase dois minutos de cortes para sair no cinema, a VIPCO lançou o VHS sem cortes apenas para ver depois que ambas as edições foram banidas. Passou várias vezes pela mesa da BBFC, até que em 2005 viu a luz do dia sem alterações.


Fazendo uma síntese de tudo o que está escrito acima, das 74 produções, 33 saíram sem cortes, 27 tiveram reduções para lançamento, 13 continuam fora das prateleiras britânicas e 1 saiu com material adicional.


Durante o vigor da lista da DPP, ações independentes de alguns condados pelas polícias locais para confiscar filmes que eles acreditavam serem ofensivos também aconteceram, baseados no “Ato 1984". Alguns deles possuíam suas próprias listas, outros pegavam primeiro e perguntavam depois. Abaixo está a lista dos filmes que foram apreendidos, mas que nunca estiveram na lista oficial da DPP. Não está completa, contudo serve para se ter uma dimensão do tamanho do caos que eram os critérios de apreensão de material durante estes tempos:

BASKET CASE (EUA, 1982) Dirigido por Frank Henenlotter

BLOOD FOR DRACULA (Itália, 1973) Dirigido por Paul Morrissey

BLUE EYES OF THE BROKEN DOLL (Espanha, 1972) Dirigido por Carlos Aured

JUNGLE HOLOCAUST/THE LAST CANNIBAL WORLD (Itália, 1976) Dirigido por Ruggero Deodato

CITY OF THE LIVING DEAD (Itália, 1980) Dirigido por Lucio Fulci

DAWN OF THE MUMMY (Egito/Itália 1981) Dirigido por Frank Agama

DEMENTED (EUA, 1980) Dirigido por Arthur Jeffreys

THE EXTERMINATOR (EUA, 1980) Dirigido por James Glickenhaus

FRIDAY THE 13TH (EUA, 1980) Dirigido por Sean Cunningham

FRIDAY THE 13TH PART 2 (EUA, 1982) Dirigido por Steve Miner

THE HILLS HAVE EYES (EUA, 1977) Dirigido por Wes Craven

I DRINK YOUR BLOOD (EUA, 1972) Dirigido por David Durstan

KILLER'S MOON (Inglaterra, 1978) Dirigido por Allan Burkinshaw

MACABRE (Itália, 1982) Dirigido por Lamberto Bava

MADMAN (EUA, 1982) Dirigido por Joe Giannone

MANIAC (EUA, 1980) Dirigido por William Lustig

MOTHER'S DAY (EUA, 1981) Dirigido por Charles Kaufman

NIGHT OF THE SEAGULLS (Espanha, 1975) Dirigido por Armand De Ossorio

THE PROWLER/ROSEMARY'S KILLER (EUA, 1981) Dirigido por Joe Zito

SUPERSTITION (EUA, 1981) Dirigido por James RobersonT

ERROR EXPRESS (Itália, 1979) Dirigido por Ferdinando Baldi

THE THING (EUA, 1982) Dirigido por John Carpenter

VIDEODROME (Canadá, 1982) Dirigido por David Cronenberg

WEREWOLF WOMAN (Itália, 1976) Dirigido por Rino Di Silvestro

ZOMBIE HOLOCAUST (Itália, 1980) Dirigido por Marino Girolami


Por engano, outras produções também foram caçadas, mas percebendo o erro foram devolvidas rapidamente. Os destaques ficam para APOCALYPSE NOW, de 1979, (possivelmente confundido com CANNIBAL APOCALYPSE), as comédias A MELHOR CASA SUSPEITA DO TEXAS (The Best Little Whorehouse In Texas, 1982), MAX DEVLIN E O DIABO (The Devil & Max Devlin, 1981) e o filme de guerra AGONIA E GLÓRIA (The Big Red One, 1977) por causa da conotação sexual dos títulos. Milhares de outros títulos não foram certificados pela BBFC e foram banidos sem aparecer na lista - a parte de sucessos conhecidos como O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA, SOB O DOMÍNIO DO MEDO e THE STORY OF O, grande parte são obscuridades que talvez os jovens britânicos jamais tenham ouvido falar, muitas delas provavelmente pérolas. Então vem a real finalidade desta discussão: Em um mundo em que milhões vivem longe do grande mundo do cinema sem restrições, podemos não reclamar por eles, mas não devemos esquecer daqueles que não são afortunados o suficiente para escolher o que querem assistir e ter um gostinho da liberdade ilimitada da sétima arte.

BANIDO! A HISTÓRIA DOS "VíDEOS NASTIES" (Gabriel Paixão)

A censura sempre foi um grande problema para os filmes cuja violência é evidentemente gratuita ou quando há excessiva depreciação dos valores ditos morais. Nestes caso, os conservadores entram em choque direto com os que defendem a pura e simples liberdade de expressão - não muito raramente esta discussão entra em níveis caseiros como, por exemplo, entre pais e filhos. Os argumentos entre ambos são fortes e contundentes e a pergunta fundamental a ser feita é mais do que óbvia: onde termina a liberdade de expressão e começa a falta de escrúpulos dentro do cinema? Qual é o limite entre a responsabilidade e a criatividade?Quando se estuda um pouco mais a fundo o enredo por trás dos roteiros e dos elencos, chega-se invariavelmente a esta discussão moral e poderia ficar desfiando linhas e mais linhas desta polêmica, porém cada cabeça é uma sentença e também não é este o alvo deste artigo. Seu objetivo é ser um documento histórico de um capítulo a parte na trajetória dos filmes de horror, esmiuçar um dos períodos mais conturbados do cinema no Reino Unido e um exemplo da dureza da censura no país mais conservador do velho continente, onde interesses unilaterais, paranóia e contradições baniram por muito tempo grandes obras controversas (e algumas continuam banidas até hoje). Filmes estes que eram referidos na época pelo termo "vídeo nasty" (ou "vídeo desagradável" numa tradução livre). Recordar é viver, afinal já disse Winston Churchill, "Aqueles que falham em aprender da história estão condenados a repeti-la" (frase esta aproveitada nos créditos de abertura de CANNIBAL HOLOCAUST do diretor Ruggero Deodato, um dos "video nasties").No início dos anos 80 a Inglaterra não era muito diferente do Brasil nos termos de distribuição de VHS, pequenas e numerosas distribuidoras de fundo de quintal apareciam e sumiam em velocidade espantosa. Com a explosão da popularidade dos vídeos cassetes e por não poderem adquirir os sucessos de Hollywood, lançavam aos borbotões qualquer coisa que satisfizesse a demanda crescente, entre eles entravam os filmes de terror que em sua maioria eram estrangeiros e jamais antes exibidos. Na realidade algumas destas produções eram tão obscuras e violentas que de outra forma jamais conseguiriam um lançamento em cinema no país.
Estas empresas faziam de tudo para conquistar sua clientela, na maior parte das vezes empregando artes de capa e contra-capa de gosto questionável para trazer a "atração pelo repúdio", que é o tema principal do excelente livro da editora britânica FAB Press, "Shock! Horror! Astounding Artwork from the Video Nasty Era". O mercado estava aquecido e as fitas de horror se tornaram imediatamente populares nas salas dos ingleses.Já existiam regras sobre o lançamento de pornografia no Reino Unido - que datam de 1959 e em 1977, sendo depois ampliada para o caso específico dos filmes eróticos -, contudo não havia regulamentação para os VHS's - ou seja, materiais de toda espécie poderiam ser irrestritamente comercializados em qualquer lugar - e em 1981 as grandes distribuidoras relutavam em embarcar nesta nova mídia com medo da pirataria e do mercado se saturar com estes pequenos filmes obscuros que estavam enchendo as prateleiras no comércio (ao contrário de hoje em que o varejo é dominado por elas).

Por algum tempo esta explosão continuava imbatível: todos os consumidores estavam felizes, o mercado cresceu maciçamente e as companhias começaram a fazer campanhas de marketing cada vez mais agressivas. Por exemplo, em 1982 a distribuidora VIPCO (Video Instant Picture Company, hoje uma das principais na distribuição do gênero) enquanto lançava DRILLER KILLER, publicou propagandas que ocupavam páginas inteiras em diversas revistas especializadas, a despeito da violência gráfica da arte original da capa, o que resultou em diversas reclamações na agência governamental reguladora da publicidade. A distribuidora Astra lançou o filme SNUFF sem os créditos iniciais e o vendia subjetivamente como um "snuff real"; títulos eram trocados para ampliar o chamariz como o slasher NIGHTMARE renomeado como NIGHTMARES IN A DAMAGED BRAIN. Alguns meses depois a empresa Go Video, em um esforço para promover publicidade para o lançamento de CANNIBAL HOLOCAUST, escreveu anonimamente para Mary Whitehouse (uma ativista que parecia se ofender com qualquer coisa, até com os desenhos do Tom e Jerry) enviando-a uma cópia do filme, foi quando as primeiras rachaduras na indústria apareceram e o que elas mostravam era uma previsão de que as coisas começavam a andar errado.

Esse aspecto somado as condições daquele povo nestes tempos - alta criminalidade, desemprego elevado e recessão econômica - fizeram com que estes filmes fossem o "bode expiatório" que a política estava procurando, afinal quem do povo iria se importar se um filme pequeno como SS EXPERIMENT CAMP fosse banido? Certamente uma infímia parcela de alienados, deviam pensar.

Não tarda muito e em 1982 (ironicamente pouco tempo depois que é divulgado que THE EVIL DEAD alcançava a liderança anual em locações no Reino Unido) a campanha inflamada contra os já nomeados "videos nasties" de Mary Whitehouse, comparando o impacto de filmes como CANNIBAL FEROX com a descoberta do vírus HIV, tomava a televisão e os jornais, provocava frenesi e histeria em massa na população culpando seus problemas pela exposição dos jovens a violência filmada - "caça às bruxas" estava instaurada. Incrivelmente esta "auto-promoção" de Whitehouse só serviu para aumentar ainda mais a demanda por estas produções entre os adolescentes e a meta da Go Vídeo surtiu mais efeito que o esperado. De forma que o Quadro Britânico dos Censores de Filmes (British Board of Film Censors ou BBFC), que é o órgão governamental que já controlava a censura nos cinemas, ampliasse os conceitos da lei de obscenidade de 1977: a lei aprovada passou a chamar-se como "Video Recordings Act 1984" entrando em vigor no dia 1º de setembro de 1985.Sob o "ato 1984" a BBFC (renomeada como British Board of Film Classification) ficaria responsável também por certificar os lançamentos em vídeo com efeito imediato, além de exigir que todos as produções lançadas antes da data da lei deveriam ser re-submetidas em um prazo de 3 anos, dividido em etapas. A contraditória classificação em separado (pelo medo de que estas fitas parassem nas mãos de crianças) fez com que muitos filmes que eram lançados sem cortes no cinema fossem cortados em VHS. O caso mais particular foi no filme O EXORCISTA que, lançado nos cinemas e em VHS pela Warner Home Vídeo em Dezembro de 1981, não conseguiu uma certificação pela BBFC e foi retirado das prateleiras em 1986 (contudo, não citado posteriormente no rol dos "videos nasties").

Com as pequenas distribuidoras não houve tempo para resposta. Armados com uma "lista negra", a polícia corria pelo país apreendendo vídeos. Alguns deles eram retirados em uma locadora em um condado e largado em outro condado adjacente; alguns títulos eram escolhidos a esmo enquanto outros eram confiscados para valer. Alarmados com a evidente seleção arbitrária, o inconsistente trabalho da polícia e os cem números de estabelecimentos que faliram com multas e apreensões, a Associação das Locadoras de Vídeo suplicou ao Departamento de Procuradoria Pública (DPP) por orientações sobre quais materiais poderiam ser comercializados e quais eram candidatos ao confisco. Reconhecendo as falhas no processo, o DPP preparou uma lista com os filmes que deveriam ser autuados e cujos processos contra as respectivas distribuidoras estavam concluídos. Esta lista foi conhecida como a "Video Nasties list".

MANÍACOS

Maníacos (Two Thousand Maniacs, EUA/1964)
Direção: Herschell Gordon Lewis. Elenco: Connie MasonThomas WoodJeffrey Allen.

Seis incautos viajantes desviam-se de sua rota numa auto-estrada californiana e entram numa cidadezinha desconhecida, onde se comemora o seu centenário por uma legião de enlouquecidos cidadãos; lá, são considerados hóspedes de honra e obrigados a participar da festa, que se desenrola tendo sangrentos esportes como prato principal - e tendo os viajantes como protagonistas.

Depois do perverso e mal afamado Banquete de Sangue (Blood Feast, 1963), um dos marcos iniciais do cinema splater-gore, o diretor Herschell Gordon Lewis retorna com essa estranha e igualmente cultuada película, ingênua e despretensiosa em seu tom de deboche ensandecido, mas incômoda e sinistra em seu acabamento tosco e cheio de boas idéias (já nos créditos iniciais vemos dois garotos enforcando um gato, em sugestão). Ao invés do suspense, Lewis optou por um clima de loucura geral e humor negro, e acabou criando uma pérola trash repleta de ironia, uma diversão macabra quase camp, produzida pelo famoso David F. Friedman, considerado um dos grandes precursores do "exploitation", ao lado justamente de figuraças do cinema americano de exploração na virada dos anos 50 para os 60, como Russ Meyer, Ed Wood Jr., Peter Bogdanovich, Roger Corman, a cineasta transgressora Doris Wisham, e o próprio Gordon Lewis.

Maníacos não é considerado nenhum divisor de águas no gênero, embora seja uma das mais "sérias" e bem acabadas obras do diretor, que aqui optou pelo horror cru e desmiolado, em detrimento das cenas eróticas, comum em outras fitas de "exploitation". Isso para quem já viu o tosquíssimo e já citado Blood Feast, além de Color Me Blood Red (1964), The Wizad of Gore (1970) e The Gore Gore Girls (1972), entre os mais conhecidos. Por isso, são boas e oportunas as cenas de mutilação e sangreira gratuitas, desmembramentos e sadismo em geral, ao embalo de um sangue cinematograficamente perfeito - com direito a um final surpresa que funciona e a uma divertida paródia ao american way of life interiorano (o filme foi rodado na pequena cidade de St. Cloud, na Flórida, e contou com a participação de praticamente todos os residentes locais). Foi lançado em vídeo VHS no Brasil pela Sunrise, mas encontrá-lo hoje, em fita original, é praticamente impossível. Um pequeno clássico do gore primitivo.


HERSCHELL GORDON LEWIS (Gabriel Paixão)

Como definir uma pessoa que trabalhou como um sério professor de inglês, um respeitadíssimo publicitário e acabou como um dos maiores provocadores de náuseas do cinema dos anos 60? Um lunático bipolar talvez, mas no caso de Herschell Gordon Lewis não se trata de sorte ou acidente, tudo o que ele construiu foi meticulosamente planejado.E na minha sincera opinião Lewis é, além de o criador de um subgênero que tantos adoram, os "splatters movies", um diretor injustiçado. Um profissional que em seu tempo não conseguiu fazer a maioria dos críticos ver o valor da diversão de suas obras além dos excessos criativos ou das ausências de recursos, mas mesmo assim deixou um valioso legado cinematográfico para os futuros cineastas da época. Este artigo serve não apenas para fazer justiça ao mito, mas contar a interessante história de um dos grandes pioneiros renegados da sétima arte. Na síntese, quer ver um autêntico exploitation com bastante entretenimento? Pegue qualquer filme de H. G. Lewis, coloque para rodar e aproveite a viagem.Herschell Gordon Lewis nasceu no dia 15 de Junho de 1929 (embora algumas fontes afirmarem que ele nasceu em 1926) na cidade de Pittsburgh, estado da Pennsylvania. Depois de completar seus estudos básicos, Lewis partiu para o curso de jornalismo na universidade de Northwestern, em Evanston, Illinois, chegando até a graduação de mestre para alguns anos depois se tornar um professor de literatura inglesa no colégio estadual do Mississippi.Em mais uma troca de carreira, Lewis foi atraído por deixar seu emprego como professor e se tornar o gerente da radio WRAC na cidade de Racine, em Wiscosin, e logo em seguida passou para diretor de estúdio da WKY-TV, em Oklahoma.
Em 1953 ele finalmente firmou suas raízes em Chicago, onde começou a trabalhar para a agência de publicidade de um amigo, enquanto ensinava em um curso de graduação de publicidade durante a noite na universidade de Roosevelt. Ao mesmo tempo, começou a dirigir informes comerciais para uma empresa chamada Alexander and Associates, que Lewis compraria a metade junto com o sócio Martin Schmidhofer, trocando o nome da firma em seguida para Lewis e Martin Films.

Avançando um pouco para 1960, Lewis decidiu entrar no negócio do cinema, produzindo e dirigindo no mesmo ano o filme "The Prime Time", o qual financiou com dinheiro do próprio bolso. Como o retorno aconteceu, sua próxima produção foi "Living Venus" (1961), que ele próprio dirigiu, inspirado na história de Hugh Hefner e os primeiros anos da revista Playboy. Apesar de muito pouco conhecida, possui duas características marcantes nos próximos trabalhos de H.G. Lewis: a associação com o produtor parceiro e lenda do exploitation, David F. Friedman e os problemas com a censura.
Basicamente "Living Venus" é um exploitation soft-core com muita nudez, mas de um nível que o mainstream de Hollywood não estava acostumado e por isso a produção não pode ser exibida nos grandes cinemas por causa das rígidas leis de censura da época.
Por três anos, Friedman e Lewis se tornaram verdadeiros produtores mercenários para uma série de financiadores e donos de redes de cinema marginal que estavam procurando pessoas que pudessem deixar uma marca no campo do sexploitation. De acordo com Friedman - entre curtas, cenas e longas metragens - eles produziram mais de 30, porém destes apenas sete filmes ainda existem hoje e são reconhecidos como produções Friedman/Lewis. São eles: "The Adventures of Lucky Pierre" (1961), feito com menos de 8 mil dólares; três filmes de campo de nudismo - "Daughter of the Sun" (1962), "Nature's Playmates" (1962), "Goldilocks and the Three Bares" (1963), este último talvez o único musical nudista da história; e três "dramédias" com pornografia soft-core, "Boin-n-g" (1963), "Scum of the Earth" (1963) e "Bell, Bare and Beautiful" (1963). A maioria destas produções foi rodada na Flórida.A partir daí a dupla passou a olhar por um ângulo diferente sobre os filmes nudistas que estava fazendo e - pensando no mercado saturado - veio com a idéia de atrair o público pelas tripas, enfatizando o sangue e a violência, em um mercado que virtualmente nenhum outro produtor havia explorado. Para tanto os dois escreveram um roteiro de 15 páginas, chamaram o projeto de Blood Feast , e com um orçamento de menos de 25 mil dólares começaram as filmagens. A velocidade com que o filme tomou forma foi impressionante: Lewis começou um dia depois do final das filmagens de "Bell, Bare and Beautiful" e foi finalizado sete dias depois. Era o fim da fase sexploitation do diretor e o início da fama de "pai do gore", apesar de Hershell jamais ter pensado que estaria ditando moda no cinema. Lançado em Julho de 1963, a produção seminal foi um sucesso imediato. A despeito do orçamento diminuto, ritmo lento, uma variedade de problemas técnicos e atuações horríveis, Lewis sabia como promover suas obras e a audiência pipocava nos cinemas de bairro e drive-ins, normalmente com a produção fazendo par em sessões duplas com outras bagaceiras do exploitation. Foi banido em várias partes do país pelo nível sem precedentes de violência e as assustadoras (para a época) cenas de assassinato, uma ação que aumentou drasticamente a demanda por produções da mesma espécie. Blood Feast foi lançado no Brasil em VHS pela extinta Sunrise Vídeo com o título BANQUETE DE SANGUE.


Com os lucros deste filme, Lewis e Friedman voltam para a Flórida para rodar o segundo da "trilogia de sangue" do diretor, Two Thousand Maniacs! - lançado nacionalmente em VHS sob o título de MANÍACOS. O roteiro foi inspirado em "Brigadoon", a lenda sobre uma cidade mágica que aparece uma vez por século. Na versão de Lewis/Friedman, a cidade fica no extremo sul dos Estados Unidos, é chamada de Pleasant Valley e aparece a cada 100 anos para fisgar alguns turistas do norte a fim de vingar os assassinatos cometidos pelas tropas da união durante a Guerra Civil.As proporções da produção, apesar de ainda minúsculas, foram substancialmente maiores do que no filme anterior: um orçamento que foi quase o triplo de Blood Feast, um roteiro de 70 páginas e duas semanas de filmagens, além de melhores recursos técnicos. As reações quanto ao lançamento em março de 1964 foram as mesmas: fascinação com a história e repulsa pelo grafismo dos violentos assassinatos mostrados em todos os sórdidos detalhes e, tal como seu antecessor, fez um excelente caixa, sendo o pessoal favorito do próprio diretor.Durante o inverno estadunidense de 1964, Lewis e Friedman fizeram o que seria sua última produção juntos, "Color Me Blood Red" (1965), que conta a história de um pintor que mata a fim de usar o sangue de suas vitimas como tinta para seus quadros. Logo após o término das filmagens, Friedman terminou sua associação com Lewis, dando como motivos problemas com a compensação financeira e conflitos de edição e produção.


Friedman se mandou para Hollywood pouco tempo depois para continuar seu trabalho por lá, deixando Lewis como produtor, roteirista e diretor por conta própria. Como se não fosse suficiente, "Color Me Blood Red" se mostrou uma produção mais reprimida, mais experimental e por isso não foi tão popular e lucrativo quanto os trabalhos anteriores do diretor.Lewis continuou trabalhando e ainda em 1964 lançou o leve e contido "Moonshine Mountain", rodado no estado da Carolina do Norte. No entanto, depois desta produção, a carreira do diretor começou a declinar. Usando os fundos de sua bem sucedida empresa de publicidade em Chicago, Lewis passou a vislumbrar novos mercados e rodou dois filmes infantis nesta época, "Jimmy, the Boy Wonder" (1966) e "The Magic Land of Mother Goose" (1967). Reza a lenda que os negativos foram perdidos e não existe mais nenhuma cópia, mas relatos de críticos na época afirmam que o primeiro é doloroso de assistir e o segundo é completamente descartável.Ainda tentando encontrar uma nova sintonia em sua carreira no cinema, Lewis comprou alguns filmes não finalizados e os re-editou para lançamento. Um deles é o notório "Monster a-Go Go" (1965), uma produção cuja reputação é tão ruim que é ranqueado por alguns lado a lado com as bagaceiras de Edward D. Wood Jr., enquanto o seguinte, "Sin, Suffer and Repent" (1965), saiu direto da linha de montagem dos filmes sensacionalistas do fim dos anos 50: começando como um daqueles filmes educativos sobre doenças venéreas, ele logo se torna uma história tórrida sobre gravidez fora do casamento, completo com uma cena real de parto.

Um dos motivos para a realização desta prática era utilizar estas produções como segundo filme nas sessões duplas da época, fazendo par com os filmes dirigidos por Lewis. Desta maneira, com os direitos pertencendo a mesma pessoa, o diretor não teria problemas na hora do proprietário do cinema repartir os lucros, coisa que era bastante problemática naquele tempo.Um dos maiores filmes de Lewis, orçamentariamente falando, foi rodado durante o final dos anos 60. "A Taste of Blood" (1967) se trata de uma película vampiresca que bebe da veia das clássicas produções britânicas da Hammer. Apesar de tecnicamente melhor que suas primeiras obras e com uma fotografia interessante, este é um filme muito prejudicado pelo excesso do tempo de duração (são quase duas horas), a ausência do estilo que é característico de Lewis, e acaba cansando o espectador um bocado.
Uma abordagem semelhante apareceria em seu próximo filme, "Something Weird" (1967), uma mescla de ficção científica, comédia e horror (mas sem violência explicita) sobre um homem que ganha poderes clarividentes após sofrer um acidente na rede de energia elétrica e tem o rosto deformado. Para recompor sua beleza, ele faz um pacto com uma bruxa feia - que parece bela para as outras pessoas - em troca de amor e vai ajudar a polícia a resolver crimes.Lewis em seguida volta a flertar com o gore extremo em "The Gruesome Twosome" (1967), onde mãe e filho possuem uma loja de perucas e escalpelam jovens garotas de um colégio próximo para conseguir sua matéria-prima. Este é sempre lembrado não apenas pela violência, mas pela péssima atuação do elenco, mesmo considerando que se trata de H. G. Lewis.
Neste período ele também roda três filmes marginais de ação e delinqüência juvenil (cabe dizer, anos antes de A LARANJA MECÂNICA), "Blast-Off Girls" (1967), "She-Devils on Wheels" (1968) e "Just for the Hell of It" (1968). Seus próximos dois filmes são um retorno ao sexploitation soft-core do início da década com "Linda and Abilene" (1969) - notório por ser a última produção a ser rodada no rancho Spahn antes de ser invadido pela família Manson - e "The Ecstasies of Women" (1969), ambos desaparecidos do grande público.Então as coisas começaram a ficar difíceis para o diretor. Em 1969 o cineastas independentes estava cada vez mais e mais soterrado pelo mainstream de Hollywood que começaram a fazer suas próprias produções de ação, drama e horror violento sem restrições da censura. Em 1970, Lewis faz o absurdo e excessivo (e por isso mesmo um dos meus favoritos pessoais) "The Wizard of Gore", sobre um mágico chamado Montag que, digamos, gosta de fazer o truque de serrar mulheres ao meio sem muitos rodeios.

Em seguida dois filmes de drama que se passam nas fazendas do sul dos Estados Unidos: "This Stuff'll Kill Ya!" (1971) e "Year of the Yahoo!" (1972), ambos eram considerados perdidos até serem restaurados pela distribuidora estadunidense "Something Weird" - que lançou quase todos os trabalhos do diretor em DVD e cujo nome é notoriamente inspirado no filme homônimo de Lewis.Outra película perdida do diretor, mas desta vez ainda não encontrado, é o desconhecido blaxploitation erótico "Black Love", de 1972, rodado todo com elenco negro comoum pedido pessoal de um amigo de Lewis em Chicago. Então ainda no mesmo ano, Herschell Gordon Lewis se despede do cinema com o alucinógeno terror "Gore Gore Girls", sobre um serial killer que mata dançarinas exóticas nos clubes mais variados da cidade. Admira-me que Lewis não tenha dirigido este filme com alguma dose de LSD no sangue, pois o ritmo é tão absurdo que parece uma paródia de si mesmo.Após aquele ano, seus dias de exploitation estavam acabados... Lewis se retirou do mercado e voltou de cabeça para sua carreira na publicidade que se mostrou bem mais produtiva (financeiramente falando): Ele escreveu e publicou mais de vinte livros e duzentos artigos sobre o assunto e fundou a Communicomp, especializada em marketing direto com clientes por todo o globo e se tornou uma respeitada autoridade sobre o assunto, respeito que jamais conseguira como diretor independente.

A despeito de ter deixado sua carreira cinematográfica para trás, Lewis sempre quis fazer uma seqüência para o filme pelo qual ficou estigmatizado, "Blood Feast". Depois de 30 anos e um longo processo de produção, seu objetivo foi finalmente alcançado quando o diretor se reuniu novamente com David F. Friedman e foi convidado para a realização de "Blood Feast 2: All U Can Eat" (2002), igualmente divertido, sangrento e caricato quanto suas maiores películas. Mais recentemente o diretor fez duas participações através de pontas nos filmes "Chainsaw Sally" (2004) e "The Gainesville Ripper" (2007).Hoje, Lewis reside em Fort Lauderdale, Florida, encabeçando a Lewis Enterprises, empresa de consultoria e publicidade em mala direta, fazendo seminários pelo mundo todo, todavia nunca se esqueceu ou deixou de arrebanhar seus fãs que não eram vivos na famosa era das grindhouses e drive-ins e que podem conferir seus feitos na época do DVD. Porém mesmo com o reconhecimento tardio de sua renegada carreira, dois projetos seus em desenvolvimento pela produtora Film Ranch International - provisoriamente intitulados "Back in Blood: Revenge of the Gore-Crazed Maniacs" com o retorno dos personagens assassinos famosos de Lewis e "Grim Fairy Tales: Win, Lose or Die" sobre um game show mortal - estão estacionados problemas orçamentários e parece que não há vontade das grandes distribuidoras em fazê-lo retornar para trás das câmeras. Uma pena para o público, contudo mesmo fora de atividade Herschell Gordon Lewis jamais deixará de ser, para sempre, o "Poderoso Chefão do Gore".


CURIOSIDADES:

- Hershell foi casado três vezes e destas relações geraram cinco filhos;

- O diretor fazia quase todas as partes de narração nos seus filmes e trailers, pois Lewis não queria (ou não podia) pagar para um ator fazer isso;

- "Wizard of Gore" é o filme favorito do personagem de Jason Bateman no premiado filme "Juno";

- “Blood Feast” foi o filme mais antigo a ser perseguido pela censura britânica no escândalo dos Vídeo Nasties (Vejam posts seguintes).

domingo, 22 de fevereiro de 2009

O NOVO CINEMA JAPONÊS - PARTE 3

NAOMI KAWASE - O real como um milagre
perguntas e introdução por Felipe Bragança
respostas traduzidas do japonês por Nilce Naomi Fukumitsu e Momoko Watanabe

Naomi Kawase nasceu em Nara, Japan, e graduou-se na Escola de Fotografia de Osaka. Sua estréia na direção aconteceu com o curta-metragem documentário Embracing (1992), que recebeu o Prêmio de Menção Especial FIPRESCI no Festival Internacional de Cinema de Yamagata, seguido de White Moon (1993). Seu primeiro longa-metragem foi Suzaku (1997), que ganhou vários prêmios, incluindo o Caméra d’Or no Festival de Cannes. Sua filmografia ainda inclui This World (co-diretora, 1995), The Weald (1997), Kaleidoscope (1999), Hotaru (2000), Shara (2003), Birth/Mother (2006) e A Floresta dos Lamentos, que ganhou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2007.

Sobre o cinema de Naomi Kawase, mais especificamente sobre Floresta dos Lamentos lateja na tela com uma pregnância impressionante, como uma catarse cítrica e suave, uma pujança amorosa e efusiva, alegre e dolorida. Inquietação fantasmagórica da alma e do corpo, o cinema de Kawase nos convida a uma experiência ao mesmo tempo dolorida e prazerosa, a uma catarse de dor ou um cafuné carinhoso, que parecem conseguir conjugar a contemplação e a total imersão no mundo. Nessa primeira conversa sobre um cinema que ainda não se decodifica claramente (mas que permanece recorrente na memória), tento entender alguns de seus trajetos, propostas, métodos, sensações. Feito tentar decifrar uma música, uma experiência tátil de contração (e recomposição) do espaço-corpo do cinema.
Escrevo então, em inglês e por e-mail, alguns suspiros para Naomi ouvir. Após espera de alguns dias, eles me chegam de volta, respondidos – só que em japonês! Embora a beleza particular de tal escrita possua enorme força (e por isso mesmo os leitores podem ver as respostas assim como foram recebidas aqui), ainda assim nos era essencial conseguir também alguma tradução destas palavras. Foi aí que, graças à generosa intervenção do nosso parceiro e editor da Cinequanon, Cesar Zamberlan, e do amigo também cinequanônico Fábio Yamaji (com a ajuda de sua irmã), aqueles ideogramas viajaram de volta ao Japão, encontrando a tradução de duas conhecidas do Fábio e de sua irmã - as acima creditadas. Depois deste trajeto circular virtual (mas tão real) por essa rede de afetos entre Japão-Rio de Janeiro-São Paulo-Japão, finalmente conseguimos colocá-las no ar, para o leitor, onde quer que ele esteja:

1 - Talvez pareça banal começar uma entrevista pela questão tão difusa da inspiração ou da pulsão criativa (algo tão intangível), mas sua cinematografia mais recente expressa uma vontade tão desesperada de vida que passa a se tornar impossível não se interessar pelo que te move... De onde vem tanta vontade de cinema?
Naomi Kawase - Eu não comecei a produzir filmes em homenagem a algum diretor ou algum filme. Os homens são únicos desde o nascimento. Por conta disso, às vezes sentem solidão no coração. Porém, na realidade, todos nós temos a experiência de ligação com alguém (ao menos a própria mãe). No final, as vidas são ligadas, conectadas. No início da minha carreira, eu produzia filmes para matar essa solidão... era isso. Agora, estou produzindo os filmes para retratar a beleza da ligação e conexão das vidas.

2 - Há uma força dramática muito intensa na forma como você coloca seus personagens sempre em alguma espécie de abismo afetivo, de uma certa assombração e um certo espanto com a vida. Como você tenta passar isso para o filme, para a equipe, para a atmosfera do set – esse sentimento de encantamento e risco?
Naomi Kawase - Eu vejo a beleza no mundo através de homens que chegaram ao limite. Tento chegar na verdade da beleza através dessa visão, desse ponto-de-vista. Peço sempre aos operadores de câmera que sintam e pensem no conceito do filme, não com a cabeça, mas com o coração. Eu, como diretora, sempre tento fazer com que as pessoas envolvidas no projeto vivam num mundo mais improvisado, livre. Não gosto que fiquem presas ao roteiro.

3 - Fale um pouco do processo de construção cênica. Há uma energia de vida única em diversas de suas passagens, que nos lembram uma documentação de um balé, de uma dança – como o parto e a dança em Shara (imagens ao lado), as brincadeiras da mulher e do homem no jardim e na mata em Floresta dos Lamentos. Me fale um pouco da forma como você decupa, organiza e recorta suas cenas com a câmera.
Naomi Kawase - Quando estou no set, tento conseguir uma cena boa em um take único. Não fazemos muitos ensaios. Eu gostaria que os atores conhecessem o mundo do filme pela primeira vez na hora de filmar. Os operadores de câmera também. Mas, como eles são técnicos, têm de ensaiar até algum ponto... Não chega a ser, porém, um esquema de filmagem exatamente, é como se fosse uma preparação para poder captar qualquer movimento e ação que os atores venham a nos dar.

4 - Ainda afetado por Floresta dos Lamentos, te pergunto: a partir de que momento, nesse turbilhão de afetividades, improvisos, liberdade, que parecem estar misturadas a seu rigor conceitual de um certo desespero alegre, você consegue perceber, organizar, o filme que estás dirigindo? Onde termina a vida e começa a intervenção estrutural do filme e como isso se dá na busca de uma alegria essencial que parece estar misturada a esse desespero?
Naomi Kawase - É por dentro da própria experiência do filme que a tristeza se transforma em alegria. No meu filme, os atores interpretam os papéis como estivessem vivendo o seu dia-a-dia, na vida real. As câmeras filmam este acontecimento com calma. É claro que existe um conceito minucioso na minha visão, mas que ficará mais claro na hora de edição somente. Na hora de filmar a cena, eu me concentro em registrar a realidade como se fosse um milagre.

5 - Seu cinema carrega uma pessoalidade tamanha que parece mesmo se aproximar de uma certa ingenuidade criativa. Essa ingenuidade me faz pensar: você se sente trocando idéias com outros realizadores, você se sente influenciada por filmes que vê, outras formas de arte a seu redor, um panorama de realizadores que te interessam?
Naomi Kawase - Na verdade, toda forma de arte verdadeiramente surgida e nascida das pessoas me agrada muito, pois meus filmes também não deixam de tentar ser isso. Minhas obras, meus filmes, talvez fujam um pouco das formas mais padronizadas de cinema, mas acredito que existem muitos outros realizadores que estão continuando também a fazer essa arte mais “humana.” Acredito, talvez, que posso de alguma forma estar dialogando com este tipo de pessoa. De qualquer forma, não penso muito sobre movimentos cinematográficos. Na realidade, acho que se olhar para os meus passos, estarei tendo, isso sim, uma conexão com a natureza e com o mundo antes de tudo.
6 - Pra terminar, se for possível, nos conte um pouco agora sobre seus próximos passos. Fale sobre o projeto de If Only The Whole World Loved Me, seu próximo filme... O que você já poderia me falar sobre o filme?
Naomi Kawase - If Only the Whole World Loved Me foi pensado junto com a mesma produtora que produziu o Shara em 2003. Kyoko Inukai escreve o roteiro e a atriz protagonista será Kyoko Hasegawa. Convidamos Caroline Champetier para a fotografia e Gregoire Colin fará parte do elenco. O filme será uma história de intercâmbio entre pessoas através da massagem tailandesa. Vamos filmar na Tailândia, a edição será feita a partir de novembro próximo e pretendemos passar nos cinemas do Japão no próximo verão. Acredito e espero que o público tenha uma sensação de liberdade (“open-mind”) e se sinta animado assistindo a este novo filme.

FLORESTA DOS LAMENTOS (Mogari no mori) de Naomi Kawase (Japão, 2007)
By Felipe Bragança

Naomi Kawase estava já na memória desde que seu Shara tinha aparecido, chuvoso, celebrando a vida como explosão de movimento (um movimento não de ida a um lugar, mas de agitação). Agora, com Floresta dos Lamentos, ela refaz-se num espelho quebradiço – encontra-se aqui a sensação de um nascimento que é também o de um aborto, de uma negação: o filme é um útero em que habita a memória do corpo/imagem todo.
É um filme que narra o mínimo não por fetiche do gesto banal, mas pela atenção ao afeto febril. É antes de tudo um ritual de inflação e deflação que nos convida para uma dança murmurosa no meio da mata – dançar com fantasmas é dançar com um filme. É um ritual de nascimento, grito, histeria, choro, dor, explosão, água vindo rápida e pesada! É a câmera que flutua, que flutua o tempo todo (não está na mão, está no vento). É um olhar que vai nos liberando do estado descritivo e vai nos deixando pairar por entre as coisas. Deixando o olhar vagar, feito vento, brisa, transpiração...
A construção das panorâmicas sem começo ou fim, vão indicando essa forma de flutuação pesada, em que sempre parece haver algo a se ver, mas nunca há, somente mais verde, mato, mais trilhas, mais paisagem, mais eternidade desordenada. Uma eternidade dolorida! Mas imensa... Imensa e cheia de passagens de luz entre-folhas. Naomi Kawase filma a paisagem como a imersão no próprio corpo de uma protagonista feminina que é antes de tudo um fantasma.
Machiko está no labirinto, levada por seu guia saudoso e dormente. Nesse caminho de luto, a moça persegue, ri, se expande, corre atrás do corpo cansado do homem, cuida. Cuida! Procura calor, adota o corpo do outro, abriga a pele do outro, esquenta, sua, se molha.
Catarse. Naomi Kawase filmou um parto e esse parto é um filme. Um parto de luz boa, mas luz que machuca. Úmido, quente, dolorido, desesperador, novo, aliviante, fim de mundo, começo.
A sonoridade que se contraí e expande, das caixas laterais às caixas centrais da sala de cinema, os planos que vão do olhar aberto do detalhe e ao impacto. Não à toa, o começo do filme é assim: aquele verde aberto nos joga para um detalhe de um machado numa casca de árvore. Do conforto espacial ao impacto localizado e duro, seco.
O filme é essa habitação dessa contração criativa do corpo. Não é fácil, não. Não se trata disso de achar “consolo”, não se trata de “uma forma certa”, como a frase-lema de uma personagem nos convida a aderir. Não há certa forma, trecho certo, direção certa ao que se afeta. A coisa se dá em si mesma, como o filme. E aí, se o prazer se perdeu na memória que não se vai, existe ali ainda o luto como uma alegria do alívio que nos surpreende: o lamento, a resistência, de um corpo que ri, berra, corre, explode, nasce de novo!
A imagem do cinema está ali adiante por causa disso: porque é essa acumulação uterina, muscular, nervosa. Cansativa. Cansativa........ (O que pode um corpo cansado? Acima de tudo é um corpo que tudo pode.) Um corpo cansado é o começo de um novo corpo... prazer ou perdição.
Não para servir ou obedecer a ordem de uma felicidade agendada por ansiedade – mas para nos oprimir e liberar, deixar abrir-se o peito e respirar de novo numa correnteza. Uma correnteza que Kawase costura feito um cafuné ou um estrangulamento.
Floresta dos Lamentos dói. Contrai. Expande. Não uma imagem-que-dói porque expõe a crueza gráfica, mas pelo acúmulo de latejar que ela vai sobrepondo como um lamento, um murmúrio repetido, um ir e vir da visualidade, da narração e da ocupação do espaço...
Chorar por 2 horas não resolve!.... E a coisa se dá assim: de repente, quase sem querer. Melodia fácil que se acerta sem estudo – dedos no piano vão e vem. Mas que aparece no meio de um desespero quase infantil, não da fuga (!).

sábado, 21 de fevereiro de 2009

O NOVO CINEMA JAPONÊS - PARTE 2

TAKASHI MIIKE - da intimidade sob a anarquia da violência
By Marcelo Ikeda

Takashi Miike começou sua trajetória no cinema como assistente de direção de Shohei Imamura em Chuva Negra, e logo partiu para dirigir filmes de baixíssimo orçamento, lançados no Japão quase que diretamente no mercado de vídeo, muitas vezes nem completando uma semana nos cinemas. Com isso, já adquiriu uma trajetória de uma dezena de longa-metragens. Em geral, num único ano, realiza três ou quatro filmes. O reconhecimento no Japão veio com Shinjuku Triad Society, de 1995, quando foi indicado a um prêmio de melhor direção pela Associação de Produtores Cinematográficos do Japão. Mas apenas com a recepção de Audition no Festival de Rotterdam em 2000 é que o nome de Takeshi Miike passou a ser conhecido internacionalmente.

O cinema de Miike é repleto de aparências e superfícies, que apenas com um exercício cuidadoso e atento do olhar revelam suas recônditas intenções. A princípio, seus filmes parecem constituir o estereótipo do cinema moderninho, como aquele vindo de Taiwan: são filmes violentos, graficamente estilizados, com um humor cool aparentemente irresponsável, que quebram a linearidade da narrativa clássica, lembrando um jogo visual das histórias em quadrinhos (manga). No entanto, o cinema de Miike é muito mais que isso, porque se baseia em um equilíbrio sinuoso. Ao mesmo tempo em que vinga a superfície e o instante, o violento e instintivo cinema de Miike é profundamente íntimo, humano e apaixonante.
A Cidade das Almas Perdidas parece um filme tão inconseqüente quanto um Comando para Matar. Audition começa como um despretensioso romance de um executivo em busca de uma esposa e se revela uma trágica e terrível história de horror. As explosões e a trilha sonora tornam A Cidade um filme quase ensurdecedor. Audition começa como um típico filme feminino e se torna quase tão masculino quanto um filme de gângster. O mal-estar é evidente; o público ri por falta de alternativa. Porque é a partir do deslocamento e do jogo ambíguo com as regras do cinema narrativo que Miike busca sua visão sobre o mundo que rodeia seus personagens, que são sim mais importantes que qualquer pirueta visual.
Com isso, o cinema de Miike extrai o que o cinema americano dos anos cinqüenta tem de melhor: tem a corporalidade dos melhores filmes de Aldrich, é o cinema anárquico e rebelde de Sam Fuller, mas também se assume violento como única válvula de escape contra a solidão, como nos mais pessoais filmes de Nick Ray, como Cinzas que Queimam. É um cinema tão absolutamente pessoal que só pode ser sentido nas entrelinhas, que joga com as convenções de um cinema comercialóide apenas para transplantá-las, decodificá-las segundo suas próprias leis.
Mas se Miike é moderníssimo, ele consegue o inexeqüível, ele realiza a síntese de um conjunto de tendências mais diversas. Se Miike é Fuller, é Aldrich, é Nick Ray, ele é também Griffith (pela habilidade da narrativa convergente, pelo uso da gramática), é um manipulador das emoções humanas e das reviravoltas narrativas como um Hitchcock, tem uma atração pelo sórdido que se esconde no interior das pessoas como um Fritz Lang, mas é também Godard, é Meliès, é Buster Keaton, é Bergman e Chaplin.
A Cidade das Almas Perdidas é um filme japonês protagonizado por um brasileiro e uma chinesa. Fala sobre a inevitabilidade da globalização e ao mesmo tempo sua impossibilidade. Tóquio se torna uma cidade sombria, um centro de destruição, mas é também fonte de busca e de descoberta para seus estrangeiros. Se o cinema de Miike aceita os códigos de uma linguagem de cinema que já se tornou universal, como uma tendência inevitável, seus filmes subvertem essas noções pela força de seu cinema sem restrições, pelo amor e luta de seus pobres personagens.
Audition é o ensaio metodológico de Miike, em que sua visão de cinema resulta límpida, quase explícita. O teste de elenco para escolha de uma atriz para um filme torna-se na verdade mero recurso protocolar na verdadeira opção do executivo: escolher sua futura esposa. Ele a conhece apenas por sua ficha, então como é possível lidar com as expectativas? Como é possível que as expectativas em torno de um filme superem os fatos de nossa própria vida, e ao mesmo tempo como pode nossa ordinária vida concorrer com o onisciente mundo da tela bidimensional?
Nesses filmes, numa instância quase paradoxal, os personagens sempre são profundamente humanos, sempre lutam bravamente contra uma vida de paralisia e inércia. Mesmo o mafioso da Yakuza em A Cidade ou a mulher psicótica de Audition possuem uma doçura tranqüila e encantadora. Os dois protagonistas de ambos os filmes estão condenados por amar demais, e nunca de menos: é o amor proibido do brasileiro pela chinesa, namorada do chefão da Yakuza, ou ainda Asami, a psicopata de Audition que quer que o executivo ame a ela e a mais ninguém. Ainda que o mundo caia à sua volta, ou que todas as evidências apontem o contrário, os personagens querem lutar contra um destino que parece inevitável para todos nós, menos para eles. São nesses breves momentos que a ternura de Miike por seus personagens se revela: num casamento improvisado ao som de carnaval, num jogo de tênis de mesa, no olhar do executivo para a namorada do filho.
Mas se esses personagens partem por uma desesperada e apaixonada busca, isso não implica que eles consigam vencer a batalha. Os finais de Miike são ambíguos. Em A Cidade, quando tudo parece resolvido, a impossibilidade do contato, a separação ocorre à beira do mar. O único momento de verdadeiro contato entre o executivo e a mulher de Audition é quando ambos estão mutilados, e seus olhares se cruzam. Se o prazer de Miike pelo processo cinematográfico, pelas reviravoltas narrativas e o amor por seus personagens são mais que evidentes, isso não impede que seus filmes sejam sempre um retrato da ausência, fruto de um deslocamento tão íntimo que atinge até mesmo o espectador. É também um cinema da dor e dos recomeços, como um típico cinema oriental que simplesmente busca um lugar no mundo.
Crítica do filme: AUDITION(Ôdishon)
by Filipe Falcão
Sete anos após a morte de sua esposa, Aoyama, executivo de uma produtora de vídeo, aceita o convite de um amigo e resolve realizar uma audição com a desculpa de encontrar uma apresentadora para um fictício documentário e assim conseguir uma noiva. Aoyama vê em Yamazaki Asami a mulher ideal para um novo relacionamento, mas a primeira impressão pode não ser a mais certa....
Provocar susto. A princípio, esse parece ser o principal objetivo de um bom filme de suspense. De uma forma geral, a maioria das produções do gênero consegue criar seus (poucos) momentos que fazem espectadores mais sensíveis darem alguns pulos da cadeira durante a projeção. Tais filmes, no entanto, logo caem no esquecimento e tornam-se nada mais que frustradas tentativas de transmitir reais sentimentos que obras do gênero podem provocar. Tais como um medo mais real e profundo, capaz de gerar repulsa, dúvida, agonia, asco, entre outros. Quando a proposta recai nesta tentativa de passar este turbilhão de sentimentos e sensações, o resultado pode tornar-se (quando bem feito é claro) no mínimo memorável e a experiência de assistir ao filme como única. Nunca lançado no mercado nacional, Audition (Ôdishon, Japão-1999), consegue fazer parte deste seleto grupo de filmes que fazem de uma simples ida ao cinema uma viagem pelos caminhos mais obscuros do medo. Dirigido por Takashi Miike, o filme narra a história de Shigeharu Aoyama (Ryo Ishibashi), um viúvo solitário que trabalha em uma produtora de vídeo e que tenta reconstruir a vida através de um possível novo casamento. Para encontrar a futura esposa, ele aceita a idéia de um amigo em realizar um concurso para contratar uma apresentadora para um documentário que será gravado pela sua produtora. Desta forma, o viúvo terá acesso aos currículos de pelo menos uma centena de mulheres interessadas no trabalho, podendo desta forma fazer uma seleção de quem venha a lhe agradar. Lembrando que estamos no Japão e que de acordo com a cultura local, a mulher não deve apenas ser bonita ou inteligente, mas possuir certas habilidades como saber dançar, recitar, entre outras. Será através deste pseudo-teste que Shigeharu chegara até uma bela garota chamada Asami Yamazaki (Eihi Shiina). Acreditando ter achado a mulher ideal para se casar novamente, o viúvo começa a convidar a jovem aspirante a apresentadora para uma série de encontros. Será a partir destes que o público, e posteriormente Shigeharu, irão perceber que existe algo de estranho, macabro e aterrador ligado à bela Asami. Qualquer tentativa de exemplificar ou desmistificar tais ações da jovem seria capaz de estragar parte do eficiente clima que vai aos poucos sendo construído. Clima este que aos poucos levará o espectador a se encontrar completamente sufocado pelo que virá a acontecer. Aliás, Audition deve ser um filme que deve ser visto sem que o público saiba quase nada da história. A sensação de assistir Audition desta forma é a mesma de ver pela primeira vez e sem muitas informações obras como Ringu, O Massacre da Serra Elétrica (original) e A Bruxa de Blair. Todos estes filmes provocam, e de forma muito bem realizada, sentimentos de real medo, de agonia e até de náuseas. Outro ponto de destaque para Audition é a falta de elementos tão comuns em filmes de suspense, o que fazem o espectador ficar vulnerável sem saber o que pode acontecer em uma próxima cena. O começo do filme mais lembraria um drama do que um suspense. A falta de efeitos especiais e principalmente de uma trilha sonora que aumente na hora do susto (tão presente em outras obras) permitem ao espectador ser pego de surpresa e absorver tudo que o filme oferece. A ação do filme acontece de forma lenta, com cenários escuros e a divisão de cenas visualmente fortes e diretas, assim como outros momentos construídos através de sugestões. Como mencionado antes, Audition não foi lançado nacionalmente no Brasil. A única forma de assistir ao mesmo é através de DVD importado, com legendas em inglês, ou baixando o mesmo na internet. Trata-se, no entanto, de uma obra que merece ser conferida. Principalmente em uma época na qual o cinema ainda aposto em produções de assassinos mascarados, casas assombradas por fantasmas digitais ou remakes de obras de sucesso. Audition merece destaque pela ousadia e pela simplicidade com qual transmite medo através de sua história.

O NOVO CINEMA JAPONÊS - PARTE 1


SHINYA TSUKAMOTO - O Cronenberg Japonês
By Romero Maciel

Quando referimo-nos ao cinema oriental, propriamente o japonês, quais são os principais nomes que temos em mente? Kurosawa? Ozu? Kitano? Sem dúvida. Mas o que muita gente não sabe é que o cinema japonês tem muito mais do que Samurais e honra a mostrar.
No final da década de 80, um baixinho e fraco rapaz do subúrbio de Tóquio chocou o mundo exibindo uma película filmado com uma câmera 16 mm em P&B, a mais pura demência Cyberpunk até então nunca mostrada, o clássico Tetsuo - Iron Man. A história é simplesmente resumida a um sujeito normal que, ao passo que se desenrola trama, vai se tornando um monstro de metal. O filme é uma mistura de sci-fi com horror e grandes doses de clima cyberpunk que como um todo, se resume a uma grande tensão tanto física como psicológica do personagem principal, rumo à metamorfose de seu corpo. Tanto que ficou conhecido pelos fãs como “O Cronenberg Japonês”, por adotar um estilo que assemelha bastante ao de Cronenberg, se tratando de transformação física e psicológica, mas com um toque “bem japonês”.

Logo após o grande estouro com Tetsuo, Shinya Tsukamoto não parou mais e produziu pérolas como a continuação da saga Tetsuo 2(agora com mais recursos e a cores) com uma história mais elaborada do que a primeira(se é que o primeiro tem história). O destaque nesse filme é a fotografia azulada e a elaboração em stop-motion também presentes no primeiro filme.

Outra obra importante é Tokyo Fist, a história de um triangulo amoroso na grande cidade de Tóquio envolvendo superação, boxe, intriga, em que a tensão psicológica mais uma vez prevalece, fazendo esse trio seguir a tragédia. Três pessoas e seus respectivos problemas emocionais, uma garota que sente o prazer em perfurar seu corpo, o namorado que tem o pai em um hospital à beira da morte e finalmente o anjo exterminador que muda todo o clima da trama.

O mais recente trabalho do Tsukamoto é sem duvida nenhuma, a experiência mais claustrofóbica que uma pessoa pode ter assistindo a uma sessão. Trata-se de Haze, um média metragem em que o personagem principal (o próprio Tsukamoto) acorda num local totalmente fechado e apertado, sem luz, sem saber aonde está e por quê está ali, no decorrer da trama, as respostas vão aparecendo aos poucos.

O estilo de Tsukamoto é sem dúvida nenhuma a marca mais forte que existe nos seus filmes. Neles o que prevalece 100% é o lado psicológico de seus personagens captado com maestria pela sua câmera nervosa em diferentes tonalidades de azul e cinza. A tensão da Metrópole afetando as pessoas diretamente, a evolução da tecnologia, a supremacia das construções urbanas, a individualidade da sociedade capitalista atual, tudo isso é sintetizado por Tsukamoto e passado ao expectador fazendo-o pensar, sendo isso uma constante em suas películas.

Com tão poucos filmes, mas de qualidade espantosa, Shinya Tsukamoto é o que de melhor o cinema Japonês possui no quesito “Cinema Underground”, junto com Takashi Miike, sendo que ele já influência novos diretores que aparecem na praça, como Darren Aronofsky, por exemplo.
Curiosidades
- Atua na maioria dos seus filmes
- A trilha sonora de todos os filmes é um show a parte
-Além de atuar nos filmes que dirige, freqüentemente faz parte do elenco de vários outros diretores, como em Ichi The Killer do Takashi Miike e Marebito de Takashi Shimizu.

FILMOGRAFIA

Tetsuo (1989)
Tetsuo II: Body Hammer (1992)
Tokyo Fist (1995)
A Snake of June (Rokugatsu no hebi) (2002)
Vital (2004)
Haze (2005)

sábado, 14 de fevereiro de 2009

The Devil and Daniel Johnston - Loucuras de um Gênio

Gênio, Maníaco-Depressivo, Cantor, Compositor, Artista. Um retrato sobre a loucura, a criatividade e o amor. Daniel Johnston é um enigma, e uma lenda viva da cultura popular. Adolescente reclusivo, Daniel começou a dar mostras de uma invulgar capacidade artística, criando filmes em super-8 e bandas desenhadas na cave da sua casa. Mas aos olhos da sua família Cristã fundamentalista, essa não era uma forma produtora de contribuir para a sociedade. Desde que o criador dos Simpsons e seu grande fã, Matt Groening, o homenageou na sua coluna do LA Weekly, há alguns anos, referindo que "alguém deveria fazer um documentário sobre Daniel Johnston", e que Kurt Cobain o declarou o maior autor de canções vivo, que Daniel era considerado o tema ideal para um documentário.Foi necessário o trabalho do realizador Jeff Feuerzeig e do produtor Henry S. Rosenthal para o tornar realidade.

"Ele sorria em seu inferno pessoal

Jogou a última moeda em um poço dos desejos

Mas desejava perto demais e caiu

Agora ele é Gasparzinho, o fantasma camarada"


"Casper, the Friendly Ghost" está no disco Yip/Jump Music (1983). Grisalho, mas com voz ainda de criança. Suas canções falam de amores perdidos, problemas de comunicação, Gasparzinho, King Kong e Capitão América. Seu gênio se expressa de uma maneira muito peculiar. Ele canta, toca violão e teclados e também desenha. A maioria das gravações é lo-fi, feitas em casa. Entre seus fãs estão o Yo La Tengo (com quem gravou uma versão de "Speeding Motorcycle" pelo telefone), Sonic Youth e David Bowie, Kurt Cobain entre outros.
Diagnosticado com distúrbio bipolar, Daniel, por exemplo, provocou um acidente aéreo em 1990. Seu pai pilotava um avião particular, levando o músico de Austin, onde havia feito um show, para West Virginia. Num surto, Daniel pensou que o pai fosse o demônio, tentou assumir o controle do avião, tirou a chave da ignição e a jogou pela janela. Seu pai conseguiu pousar em uma floresta. O avião foi destruído, mas os dois tiveram a sorte de não saírem feridos.

O documentário The Devil and Daniel Johnston, sobre sua vida e seu trabalho, ganhou o prêmio de melhor diretor no festival de Sundance em 2005, para Jeff Feuerzeig.
Na década passada, chegou a recusar um contrato com a Elektra porque achava que a banda Metallica, que lançava seus discos pela gravadora, poderia matá-lo. Daniel mora com os pais e gasta boa parte do dinheiro que ganha em gravações não-oficiais dos Beatles. Não sei qual foi a reação de Daniel à morte do Capitão América. Ele disse certa vez numa entrevista:
"Sempre desenho o Capitão América e, é claro, o Gasparzinho é um dos meus personagens favoritos. Eu até desenhos os dois juntos em suas pequenas aventuras e coisas assim. Eu amo Jack Kirby (desenhista de clássicos da Marvel) tanto quanto os Beatles."

Apesar do público brasileiro ter pouco ou quase nenhum conhecimento desse ícone-pop, o roteiro do documentário vai construindo para o público a trajetória de um estranho garoto comum de certo modo mas extraordinário por outro prisma. Aos poucos as patologias de Johnston vão aparecendo e se intensificando, em alguns momentos é curioso e hilário, em outros comovente. Ao terminar a sessão temos um panorama rico de uma figura extraordinária que transformou suas obsessões, neuroses e paixões num extenso, belo e prolífico material artístico. Filme imperdível!!!!