Contra a parede (Gegen Die Wand, Alemanha / Turquia - Dir: Faith Akin. Com Birol Ünel e Sibel Kekilli. 2004.)
- Não se morre assim.
- Como é?
- Longitudinal.
- Longitudinal o que?
- O corte precisa ser longitudinal, não transversal. Corte transversal é bobagem!
O que procede a esse diálogo inusitado entre os personagens Cahit e Sibel quando se conhecem numa clínica de recuperação depois de ambos tentarem se autodestruirem é uma declaração de amor à vida através do desejo da morte.
Ou melhor, será que dá pra surgir uma história de amor entre dois seres tão antagonicos que desejam tanto se destruirem para se libertarem da "prisão" que o mundo se tornou a sua volta?
Cahit, velho punk frustrado, bêbado, sujo e autodestrutivo. Sibel, uma reprimida suicida que procura casamento com Cahit para se libertar das amarras de sua família conservadora. Ambos são alemães com raízes turcas, no entanto Cahit ligou o foda-se para sua raiz e, consequentemente, para tudo a sua volta.
E é graças ao turbilhão de sentimentos dos personagens que reside toda a virtude desse filme irregular mas poderoso.
Ambos se casam, sem amor. Cahit nem sabe porque está fazendo isso - talvez para satisfazer o desejo de liberdade de Sibel. "Foda-se, eu não tenho nada pra fazer mesmo!", diria ele.
Casados, mas cada um na sua - Cahit continua transando com sua antiga namorada punk e Sibel vai descobrindo os prazeres da vida noturna de Hamburgo.
Da convivência, algo surge - será amor ou a desesperada necessidade de conforto para a solidão e frustração.
Quando o amor surge ele vem amarrado à tragédia - Cahit mata por ciúme um conhecido que se envolveu com Sibel e tudo que poderia ser não foi - ele vai preso ela vai para Istambul tentar reconstruir a vida - durante os anos que irão passar ambos vão mudar, pro bem ou pro mal.
Histórias de amor entre opostos nunca foram novidade no cinema, no caso de Contra a Parede - o diferencial é a fúria impregnada nas atuações de ambos os protagonistas - Birol Ünel transmite toda a angústia de um ser que já morreu e continua a perambular sem destino (hoje, é um dos atores europeus mais badalados). No entanto Sibel Kekilli é a alma do filme, quando está presente tudo se transforma, o filme adquire uma pulsante vida um poder magnético - quando ambos estão juntos tudo pode acontecer e acontece (vide a cena no restaurante quando Sibel pergunta se Cahit quer casar com ela - soco no estômago!).
A segunda parte do drama é mais morna mas não menos importante - será o momento em que haverá a transformação em ambos e o inevitável reencontro.
Em determinado momento do filme o psiquiatra que atende Cahit cita um trecho da música do grupo The The: "Se você não pode mudar o mundo, mude o seu mundo". Chegando ao final do filme podemos afirmar que a frase tem sentido. Os personagens caminham para mudanças, o desejo de morte nada mais é do que o desejo de renascer, ser reanimado sujo de sangue e prosseguir sendo o mesmo ser mas com atitudes diferentes - como uma fênix que ressurge de uma poça de sangue.
Destaque para a fotografia e edição do filme. Além da excepcionaltrilha sonora - Sister of Mercy entre outros. O filme é dividido em capítulos através de uma banda turca que dá o tom para cada segmento.
O filme é pulsante e poderoso - e que dupla de atores fabulosos!!!!
Amor, fúria, solidão, sangue, desespero e expiação.
Mais que uma história de amor, é uma história de sobreviventes.
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