
Vou começar abrindo meu coração num momento tiéte: Richard Linklater é o máximo!!!!.
Pronto, já estou refeito e posso prosseguir falando desse texano que tem no currículo dois dos filmes mais bonitos e cults sobre amor já feitos no cinema: Antes do amanhecer e Antes do pôr-do-sol (dois filmes que vou ter que dedicar umas linhas futuramente para falar). Mas não são só esses tem também o tributo de amor ao rock'n roll de Escola do Rock e a filosófica animação Waking Life. Quatro filmes legais de um cineasta americano é uma coisa rara então vale a pena falar de seu 5° filme legal, lançado recentemente em dvd.
O homem duplo é uma adaptação de obra de Philip K. Dick - o cinema já havia visitado o escritor em obras legais como Blade Runner, Vingador do futuro e Minority Report.
Basicamente o paralelo entre estas obras e o homem duplo é a Identidade- seja a perda da identidade, seja a identidade trocada ou a procura da identidade - no futuro de K. Dick a identidade de um ou mais indivíduos é um bem precioso e fugaz. Fugaz porque geralmente essa identidade não é controlada pelo indivíduo mas sim patrimônio de um organização que a libera para o uso.
Em Blade Runner vemos um grupo de replicantes que reinvindica seus direitos a propriedade de um identidade que os humanize. Em Vingador do Futuro o indivíduo descobre que sua identidade é uma farsa, um disfarce para uma identidade malévola. Em Minority Report vemos um indivíduo que tem de abdicar de sua identidade para provar que é inocente. No caso de o Homem Duplo temos um indivíduo que é um policial disfarçado infiltrado numa turma de junkies viciados numa tal Substância D. Bob Arctor, interpretado por Keanu Reeves, é um homem que descobriu que odiava seu mundo "american way of life", pai de família com a casa dos sonhos, tudo ele joga para longe - essa identidade é a primeira a ser deletada.
No momento em que começa o filme Bob Arctor é apresentado como o policial disfaçado, ele está vestido com seu traje de embaralhamento (roupa que o deixa sem identidade e pode lhe dar o rosto e o corpo de qualquer pessoa), ninguém no departamento de polícia conhece sua identidade, apenas é conhecido por um codinome o traje lhe proporciona a falta de rosto. Bob já está sofrendo a confusão mental de trabalhar como duplo, principalmente porque se afeiçoa aos seus colegas junkies e, principalmente, a Donna (Winona Ryder). Porém, sua confusão aumenta quando é designado a investigar o suposto traficante com ligações com o cartel de substância D: Bob Arctor. Bob tem que investigar a si mesmo. Nesse momento já está viciado em D, colocando a perder toda a investigação ou não...pode ser que nada é o que parece. Falar mais vai estragar as surpresas.
Linklater é um cineasta que fala sobre as relações humanas, então não espere ação e efeitos especiais. O homem duplo é uma ficção intimista com clima de policial noir. Os personagens dialogam sobre suas vidas, seus desejos e sobre a completa incapacidade de serem felizes. O uso de drogas é a única válvula de escape de um cotidiano medíocre e da falta de individualidade (os possíveis suspeitos são monitorados o tempo todo). As drogas são um problema crônico nessa sociedade do futuro (só do futuro?!?). O filme é líbelo anti-drogas, mas não deixa de apresentarmos as sensação constante de "chapação" - vemos um delírio constante, elevado pelo acertado uso da rotoscopia. Sim, é mais adequado classificar o filme como uma animação, porque é exatamente isso. Linklater, já havia trabalhado com rotoscopia em Waking Life, com resultados ótimos. O homem duplo é a evolução dessa técnica que teve origem na década de 30, consiste em desenhar sobre a película, filma-se a ação real com atores e depois se anima - o resultado é um misto de vida real com desenho. Graças à técnica o visual delirante é liberado.
O Homem Duplo é uma dolorida ficção policial de animação. Todos essas fatores podem nos confundir, mas é impossível não deixar de identificar esse filme como uma grata surpresa. Vale a pena assistir. Filmão!!!
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