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domingo, 15 de julho de 2007

OS SALTIMBANCOS TRAPALHÕES

Os Saltimbancos Trapalhões (Brasil, 1981. De J.B. Tanko. Com Renato Aragão (Didi)Dedé Santana (Dedé), Mussum, Zacarias, Lucinha Lins, Eduardo Conde. 95 min)

Alguns filmes geram certas dúvidas de classificação. Qual obra realmente é um clássico? Como diferenciar o filme clássico do filme cult? Muitas vezes os filmes se tornam clássicos depois cults como Crepúsculo dos Deuses de Billy Wilder ou algo mais contemporâneo como O Poderoso Chefão de Francis Ford Coppola. Outros se tornam cults posteriormente são eleitos clássicos, muitas vezes por serem de mal gosto ou por relevarem algum tema controvertido como Plan 9 from other space de Ed Wood, Rock Horror Picture Show de Jim Sharman ou Império dos Sentidos de Nagisa Oshima. O clássico geralmente é o filme que possui um conjunto artístico memorável que o torna imortal. O cult é o filme que pode possuir ou não um conjunto de elementos artísticos que geram uma legião de admiradores que cultuam esse determinado filme assistindo-o a exaustão.
Para que tudo isso? Para falar do filme Os Saltimbancos Trapalhões, um dos filmes mais queridos do cinema nacional. Sim, ele é cult. Mas seria um clássico?
Os Saltimbancos é um marco, é até hoje a 5a maior bilheteria do cinema nacional, 5.218.574 expectadores, só perdendo para outro filme dos Trapalhões, o 3o lugar em biilheteria, Os Trapalhões nas minas do Rei Salomão.
O que faz desse filme tão cultuado, talvez se deva a um conjunto de fatores felizes, como o auge da simpatia do quarteto, uma melhor direção de J. B. Tanko ou as deliciosas músicas de Chico Buarque. Não há como negar que é o melhor filme dos trapalhões. Esse carinho da produção talvez se refira ao tema abordado que volta às origens de Renato Aragão e Dedé Santana, ambos adventos de circos e principalmente por abordar carinhosamente a marginália de pessoas nômades à procura de um firmamento. Esse filme junto com Bye Bye Brasil de Cacá Diegues foram os que mais chegaram perto dos imortais filmes de Mario Monicelli, diretor italiano que retratou uma fauna de personagens marginais adoráveis, nômades numa Itália pós-guerra. Nessas produções o elemento outrora romântico de uma época como o circo, o carnaval, a pantomima, a prestidigitação vão sendo devorados, esquecidos por uma cultura cada vez mais globalizada, tecnológica e capitalista.
Antes dupla, Didi e Dedé, depois quarteto chegando Mussum e Zacarias, representavam um povo quer sejam os fugitivos da seca ou simplesmente os marginais de uma sociedade com ânsia de uma melhor condição de vida num período de incertezas políticas. Fora das telas o filme sofreria do mesmo mal que se abate sobre os personagens, ele representaria um tipo de produto, que teria seu fim proclamado pela Era Collor, a entrada maciça dos Blockbusters e o firmamento da televisão como veículo de consumo em massa, os filmes brasileiros campeões de bilheterias. O curioso de Os Saltimbancos é que o filme, de certa forma prevê esse fim, representado pelos sonhos de Didi com Hollywood.
Os Saltimbancos têm aquela inocência burlesca imortalizada pelo grupo, todos estão ótimos. As cenas músicais são deliciosas e as músicas até hoje são cantadas e tocadas com sucesso. E temos um final, digno de Chaplin e Monicelli, com Didi sozinho no picadeiro e sua máscara de burro chorando.
Clássico ou não, um filme aparentemente simples e inesquecível, muito brasileiro em seus acertos e tropeços. Uma pirueta, duas piruetas, bravo, bravo!!!

3 comentários:

Fernanda D. disse...

SENSACIONAL!!! Muito bom! Amigão, arrasou. Amei relembrar esse filme incrível e já deu vontade de ver de novo. Parabéns e sucesso! Nos vemos por aqui tb. beijão!

Edu Reginato disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Eduardo disse...

Texto brilhante, parabéns. Este filme foi um marco na minha infância. Abraços.