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domingo, 15 de julho de 2007

O HOSPEDEIRO


O HOSPEDEIRO (THE HOST/Gwoemul - CORÉIA DO SUL, 2006. DE BONG JOON-HO. COM SONG KANG-HO, BYEON HIE-BONG, PARK HAE-IL, BAE DU-NA. 119 MIN)

Quando falo sobre O Hospedeiro, as pessoas me olham com um certo ceticismo. Falo que é o melhor filme de monstro já feito desde King Kong (1933) - sem menosprezar o belo trabalho no remake de Peter Jackson. Falo que é uma das melhores sátiras sóciopolíticas dos últimos tempos - eles não polpam o governo americano e sul-coreano. Falo que é um dos melhores dramas sobre relações familiares que o cinema asiático nos proporcionou. E, por fim, falo que é uma comédia ácida e esquisita. Cada vez que falo mais sobre o filme mais a pessoa que ouve fica pasma e me olha com aquela cara de que está escutando uma indicação de excelente programa furado.
Bem, quem achar que esse programa é furado vai estar perdendo um dos melhores filmes dos últimos anos. Um filme que proporciona uma montanha russa de sensações, no entanto, sem desequilibrar os ingredientes e transbordalos num "samba do crioulo doido".
Não sou o único que partilha dessa opnião. A Cahiers du Cinema, bíblia do cinema cabeça, elegeu O Hospedeiro como uns dos dez melhores filmes da década!!!
Vamos para a história: Um mutante, resultante do envenenamento do rio Han por substâncias tóxicas despejadas pelo governo sul-coreano e americano, começa a atacar pessoas às margens do tal rio. Uma família desestrurada parte em busca de uma das vítimas do monstro pois acredita que a garotinha ainda está viva. No entanto, para tentar encontrar a menina eles terão que enfrentar monstros piores que o bagre gigante - enfrentarão governos inefiscientes e ignorantes, a população paranóica e egoísta e as limitações de si mesmos, sim eles próprios são empecilho para encontrarem seu ente querido.
Numa época que as relações familiares estão completamente fragmentadas ou inexistentes - veja bem, na cultura asiática, a família é um dos pilares da cultura milenar - seja pelo trabalho, seja pela massificação da informação, seja pela sociedade que não almeja mais esses fatores e prefere o make your self, essa família resolve se unir - a sequência em que todos se juntam para chorar pela parente "morta" é hilariante - esse é um dos grandes trunfos do filme: a sensação de esquisitice, o humor aparece nos momentos mais inesperados.
Temos o velho patriarca e seus três filhos - o desempregado, o meio abobalhado (interpretado pelo ótimo Song Kang-ho) e a isegura campeã de arco e flexa - resgatar a filhinha do meio abobalhado é o objetivo do curioso grupo.
Uma das grandes sacadas do filme, o monstro (que deveria ser o grande astro do filme) é apenas um coadjuvante, serve como catalisador de todas as impurezas da sociedade moderna, não é apenas o Rio Han que está poluído e sim tudo que está em volta dele.
O filme tem momentos antológicos como o primeiro ataque da criatura (assustador!!!) e o duelo final (belíssimo!!!) - novamente não sabemos quem é o monstro afinal, os governos imbecis ou a pobre criatura mutante.
O clima amargo e dolorido do drama também é um ponto forte que cria uma sensação de verdade à uma trama fantástica: a sequência do duelo do velho com o monstro e a do triste jantar da família num trailer abandonado.
O filme é mais um drama sobre a luta de uma família contra um sistema que determina o seu destino e que esfrangalha os laços de união dos homens do que um filme de monstro. No entanto não deixa de ser o melhor filme de monstro já feito.
A criatura tem que ter um destaque, simplesmente fantástica e muito bem inserida na trama com um uso muito delicado dos efeitos especiais (que foram supervisionados pela WETA de Peter Jackson) - é na verdade um bagre gigante deformado, um design sensacional.
O filme custou meros 11 milhões de dólares - dinheiro de doce perto das dezenas de milhões gastas num remake de Godzilla (um dos piores filmes de todos os tempos). Dirigido pelo excelente Bong Joon-Ho, vejam Memórias de um assassino - lançado em DVD - em que Joon-Ho subverte os clichês de filmes de serial killers e nos brinda com algo diferente.
Hospedeiro quebra qualquer clichê, nos impôe verdades sinistras (preste atenção no paralelo que fazem da gripe do frango com a suposta epidemia que alegam o monstro estar disseminando), nos faz pensar sobre ecologia, sobre nossas famílias, nos faz arrepiar os cabelos e viver muita tensão e por fim, como nenhum outro filme de monstro pode fazer, nos faz chorar copiosamente pelo desejo de um mundo melhor, e que está longe de existir.
Simplesmente, imperdível.

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